domingo, 29 de abril de 2012

Trabalhadores livres nos engenhos de açúcar do Brasil Colonial

Trata-se de um conceito popularmente difundido: o trabalho nos engenhos de açúcar do Brasil colonial era feito por escravos, o que, bem entendido, significa cativos do sexo masculino. Ora, como já se demonstrou anteriormente neste blog, muito do trabalho de um engenho era feito por escravas, tanto na lavoura de cana como nas demais instalações de fabricação do açúcar, de modo que, por nenhuma maneira, deve-se pensar que eram as mulheres cativas restritas aos trabalhos domésticos na casa-grande (¹).
Além disso, é preciso dizer que, mesmo sendo cativa a maior parte da mão de obra empregada nos engenhos, havia determinadas funções que eram, habitualmente, exercidas por trabalhadores livres, contratados por um salário fixo. Pelo menos é o que se depreende do que escreveu o Padre Antonil (²), em Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas:
"Servem ao senhor do engenho em vários ofícios, além dos escravos de enxada e de foice, que têm nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas, negros e negras de casa ou ocupados em outras partes, barqueiros, canoeiros, calafates, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais cada senhor destes necessariamente um mestre de açúcar, um banqueiro e um contrabanqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho e outro na cidade, feitores nos partidos e roças, um feitor-mor do Engenho, e para o espiritual, um sacerdote seu capelão, e cada qual destes oficiais tem soldada." (³)
Vale explicar que a expressão "tem soldada" significa: recebe salário.
Alguns dos ofícios mencionados podiam, eventualmente, ser exercidos por um escravo, mas, para tanto, era preciso dispor de algum que fosse devidamente capacitado para a função. Vê-se, pois, o quanto era complexo, para a época, o empreendimento de um engenho açucareiro, não só pela necessidade de amplas terras cultiváveis, instalações e maquinário, como também pelo número de trabalhadores, quer escravos, quer livres, com os quais era preciso contar.

(1) Veja, sobre o trabalho feminino nos engenhos coloniais de cana-de-açúcar, a série "O trabalho das escravas nos engenhos de açúcar".
(2) Sobre André João Antonil, veja a postagem "Antonil e a vida diária em um engenho de açúcar no Brasil Colonial".
(3) ANTONIL, André João (Giovanni Antonio Andreoni). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 2.


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