quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Quando começam os festejos do Natal

Estamos no final de outubro e já vejo lojas oferecendo artigos natalinos. Se isto continua, chegará um tempo em que o ano todo será Natal, e, com isso, perde-se a graça da festa. É mais ou menos o que acontece em relação à Páscoa, quando ovos de chocolate são postos à venda desde fins de janeiro. 
No dizer de Joaquim Manuel de Macedo, referindo-se ao Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, era esta a duração dos festejos de Natal durante o Século XVIII, e mesmo no XIX:
"As festas de Natal estendiam-se, como ainda hoje, do dia 25 de dezembro do ano que acabava até 6 de janeiro do novo que começava. Nelas, porém, predominavam os dias de Natal, de Ano Bom e de Reis." (¹)
De acordo com Macedo, os festejos de Natal eram, então, assinalados por missas, ceias e presépios:
"O dia de Natal era notável pela missa chamada do galo, pelas ceias alegres que a precediam (²) e que tão famosas eram, e pelos presépios que se abriam ao público, e a que concorriam chusmas de visitadores." (³)
Não havia muita novidade à disposição de quem vivia no Rio de Janeiro - como em todo o Brasil - durante o Século XVIII. Por isso, os presépios que anualmente eram abertos, talvez os mesmos, ano após ano, eram tão atraentes. Macedo referiu a existência de três, que mais se destacavam no Rio de Janeiro:
"No fim do Século passado (⁴), os presépios mais estimados do Rio de Janeiro eram três. O da ladeira de S. Antônio, que os religiosos franciscanos apresentavam anualmente. O do convento da Ajuda, mais pequeno [sic] que o precedente talvez, porém mais curioso e atrativo, porque ao mesmo tempo em que se viam as figuras do presépio, se ouviam cantos religiosos e análogos ao assunto, entoados pelas freiras. E incontestavelmente superior a ambos, o presépio do Livramento, na casa que fica ao lado direito da capela de N. S. do Livramento.
Estes presépios conservavam-se abertos e patentes ao público em todas as noites, desde a do Natal até a de Reis." (⁵) 
Uma coisa é certa; os festejos de Natal eram, em essência, religiosos. O elemento comercial não havia, ainda, se infiltrado neles.

(1)  MACEDO, Joaquim Manuel de. Um Passeio Pela Cidade do Rio de Janeiro. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 389.
(2) A missa do galo era celebrada à meia-noite; portanto, as ceias de Natal vinham antes dela.
(3) MACEDO, Joaquim Manuel de. Op. cit., p. 389.
(4) Referia-se ao Século XVIII.
(5) MACEDO, Joaquim Manuel de. Op. cit., p. 389.


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