quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Por que os antigos gregos sacrificavam um porco antes de cultivar um campo

A maioria dos povos da Antiguidade tinha algum tipo de ritual relacionado ao plantio e à colheita, que geralmente incluía sacrifícios ao deus ou deusa que supostamente regia essas atividades. Esperava-se que as divindades protetoras afastassem as pragas, fizessem germinar as sementes, cair chuva em quantidade adequada e, finalmente, que enchessem os campos com uma colheita farta. Os antigos gregos, em particular nos tempos primitivos, não fugiam à regra, prestando culto à sua deusa da agricultura, Deméter (¹) - Ceres, para os romanos - quase sempre representada com uma foice na mão. Como a foice era usada na colheita dos cereais, o símbolo era apropriado. Hoje poderia significar outra coisa.
Chegava a primavera, e os agricultores gregos sabiam que não havia tempo a perder, se pretendiam cultivar o solo em condições climáticas favoráveis. Era hora de ir ao trabalho, mas nada se fazia sem um ritual curioso e sangrento. Um porco era levado aos campos que seriam cultivados e, depois, o pobre animal era sacrificado em honra de Deméter. 
Qual o significado disso?
Uma interpretação possível é que o porco era considerado malfazejo para a agricultura, por seu costume de cavar o chão, supostamente impedindo a germinação das sementes (²) e, assim, era sacrificado para demonstrar o que se pretendia que Deméter realizasse com quem procurasse atrapalhar a lavoura. Mas é sabido que porcos eram muito frequentemente sacrificados em honra dos deuses gregos (³), não só no caso dos rituais campesinos de primavera, mas em muitas outras circunstâncias em que se desejava prestar culto e obter o favor dos deuses. Neste caso específico, culto a uma deusa, cuja ajuda se esperava para o sucesso das lides agrícolas anuais. 

(1) Deméter era uma divindade menor no panteão grego, mas nem por isso desprezada pelos agricultores que levavam a sério seu culto. 
(2) Os egípcios, ao que parece, gostavam de ter a ajuda dos porcos na lavoura. Quando as águas do Nilo se retiravam, ficando a terra fértil para o cultivo, as sementes eram espalhadas e, em seguida, os porcos eram deixados nos campos, para que pisoteassem o que se plantara. Assim enterradas na lama, as sementes poderiam germinar mais facilmente.
(3) Basta dar uma olhada na Ilíada, de Homero.


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