Bugio (¹) |
O método de caça aos bugios descrito em Diálogos das Grandezas do Brasil (²), obra do começo do Século XVII, é tão famoso que até deu origem a fábulas. Mas vamos a ele:
"Tomam-nos com laços e armadilhas, dos quais um escravo meu lhes fazia uma assaz galante; a qual era que tomava uma botija de boca estreita e a meava de milho, e assim a punha lançada no chão com alguns grãos por fora ao redor da boca dela; e tendo assim a botija preparada da parte onde os bugios costumavam a vir fazer seus furtos, tanto que algum chegava a ela, vendo os grãos de milho, depois de os comer, olhava pelo buraco a ver se achava mais, e tanto que os divisava dentro, metia a mão pela boca da botija, e quando a queria tornar a tirar para fora já cheia de milho, o não podia fazer, porque, como a metera vazia, pôde bem caber no buraco, mas trazendo-a cheia, não lhe era possível podê-la tornar a tirar para fora, por esse modo ficava preso; [...] o que fazia era somente dar muitos gritos até que ao rebate deles acudia o caçador a lhe lançar um laço, com o qual depois de quebrar a botija, o trazia para casa." (³)
Bugios um tanto estranhos (⁴) |
É fato que muitos achavam que esses primatas eram especialistas em roubar frutas e outros artigos agrícolas e, portanto, era preciso, ao menos, diminuir o número de seus assaltos. Mas havia duas razões principais para a sua captura:
- Muitos colonizadores gostavam de aprisionar animais silvestres para tentar domesticá-los, e bugios eram particularmente apreciados para isso, em tempos nos quais não havia, ainda, nenhuma proibição ao seu cativeiro;
- Mais sórdido era o gosto que alguns colonizadores desenvolveram de capturar bugios e outros macacos para nada menos que fazer sopa, ou "caldo de macaco", como se dizia. Pobres animais!
(1) Cf. SELLIN, Alfred Wilhelm. Das Kaiserreich Brasilien. Leipzig: Frentag, 1885, p. 44. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) Autoria atribuída, com razoável probabilidade, a Ambrósio Fernandes Brandão.
(3) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, p. 281.(4) Cf. BIARD, François. Deux Années au Brésil. Paris: Hachette, 1862, p. 535. Desenho de E. Riou, sobre esboços de F. Biard. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.