As cigarras estão fazendo uma gritaria louca lá fora. Melhor dizendo: as cigarras machos estão gritando loucamente para atrair as fêmeas. Bem, se elas gostam, também têm todo o direito às suas expressões românticas, do jeito que as entendem, naturalmente.
Isto me fez lembrar de uma fábula de Esopo, um grego que viveu entre os Séculos VII e VI a.C. Aqui vai ela, contada a meu modo:
Isto me fez lembrar de uma fábula de Esopo, um grego que viveu entre os Séculos VII e VI a.C. Aqui vai ela, contada a meu modo:
Um agricultor andava à procura de gafanhotos que lhe devoravam a lavoura. Sempre que achava um, tinha uma satisfaçãozinha mórbida em moê-lo com os dedos. Olhando aqui e ali, viu uma cigarra e já ia triturá-la, também, quando o pobre inseto falou (por isso mesmo é fábula, porque há um animal que fala):Reflexões à parte, as cigarras do Brasil, ou, especificando, as cigarras do Maranhão, atraíram o interesse do padre Yves D'Évreux, missionário franciscano que andou por terras maranhenses entre 1613 e 1614. Em seu relato do que presenciou, pode-se ler:
- Não faça isso! Tenha piedade desta pobre cigarra... Se tivesse o costume, como os gafanhotos, de devorar sua plantação, seria justo que me matasse, mas... Que mal lhe fiz eu?
"[...] No Maranhão, como em parte alguma (¹), tem muitas cigarras, que fazem em tempo próprio um barulho infernal, como eu não acreditaria se não ouvisse: há de diversas variedades, tamanhos e cantos.Não, senhor D'Évreux, não desprezando a graça de seu escrito, há que se dizer que as cigarras não estouram de tanto cantar. As supostas cigarras mortas, que deram origem a essa crença equivocada, não passam de exoesqueletos. Como muitos outros artrópodes, as cigarras passam por ecdise: à medida que crescem, trocam o esqueleto externo, abandonando aquele que já está inadequado ao seu tamanho. E continuam a cantar (se forem machos), e a ouvir com interesse (se forem fêmeas).
São umas grossas, têm seis polegadas de comprimento, e voz forte e alta a ponto de ferir-nos vivamente os ouvidos. Não cantam no inverno, e sim no estio (²), e quando se aproximam as chuvas gritam tanto a ponto de estalarem pelos lados, como me contaram os selvagens [sic], sendo isto causado pelo bater das asas quando se esforçam e se incham para dar mais harmonia à voz." (³)
(1) D'Évreux conhecia pouca coisa do Brasil, e não poderia falar com propriedade das cigarras de outras áreas.
(2) Em perfeito acordo, portanto, com outra fábula, aquela que trata da cigarra e da formiga.
(3) D'ÉVREUX, Yves. Viagem ao Norte do Brasil Feita nos Anos de 1613 a 1614. Maranhão: Typ. do Frias, 1874, p. 163.
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