quinta-feira, 25 de junho de 2020

Deuses egípcios, para os ricos e para os pobres

A simples consideração dos túmulos egípcios, que atravessaram milênios e ainda existem, leva à dedução de que muito da riqueza que o antigo Egito produziu foi gasta em construir e adornar essas moradas dos mortos - mas não para todos.
Faraós e seus familiares, sacerdotes e outros poderosos, oficiais do governo, esses asseguravam para si túmulos soberbos, nos quais eram sepultados com os objetos pessoais e o que mais fosse necessário para garantir, "no além", uma vida tão boa quanto a que tinham na terra. O raciocínio era simples: aquele que morria era avaliado pelos deuses, o que significava que seu coração seria pesado em relação à "pena da verdade". Se aprovado, iria para a vida bem-aventurada. O chamado "Livro dos Mortos", que na verdade não era um livro, estava repleto de truques e encantamentos para ludibriar os deuses e facilitar a rota da vida eterna àqueles que utilizavam suas propriedades mágicas. 
Os pobres, contudo, não tinham direito sequer ao consolo da esquálida justiça social que professa nivelar os homens na morte. Suas casas eram, como regra, miseráveis habitações feitas de barro, quase destituídas de mobiliário. Com poucos recursos, dificilmente poderiam assegurar para si mesmos uma mumificação eficiente para enfrentar a jornada ao além. As próprias crenças egípcias não lhes eram em nada favoráveis, asseverando que, no máximo, seriam, depois da morte, camponeses e artesãos, como sempre tinham sido. Não obstante, toda moradia, ainda que paupérrima, tinha uma ou mais estátuas de deuses, pequenas, sim, mas, na opinião popular, indispensáveis. É que se supunha que os deuses podiam afugentar animais peçonhentos. Relatos da Antiguidade referem que serpentes e escorpiões eram em extremo comuns no Egito. Pragmáticos, portanto, os egípcios pobres esperavam que seus deuses fossem capazes de, ao menos, mantê-los nesta vida por mais tempo, já que talvez não tivessem ocasião de topar com eles na eternidade.


2 comentários:

  1. O que mudou, afinal, passado tanto tempo, na vida de pobres e ricos? Se exceptuarmos a forma, o conteúdo não mudou nada, as clivagens continuam a ser gritantes.
    É sempre um prazer passar por aqui, Marta.

    Tenha um bom dia. :)

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    1. Olá, boa noite. Estou acompanhando os posts de seu blog. Ótimo ver que estão mais frequentes (verifico todo dia para ver se tem algo novo).

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