Ao relatar uma escaramuça ocorrida durante a luta pela expulsão dos holandeses que haviam entrado no Nordeste brasileiro no Século XVII, Antônio de Santa Maria Jaboatão, em obra que data originalmente de 1757, afirmou: "dos nossos pereceram sete, e foram feridos vinte e cinco, e Jerônimo Correa com três flechadas (¹), de que sarou com muito perigo; e assim ele como os dois companheiros da primeira canoa, com as mãos tão empoladas da quentura dos mosquetes, que por muitos dias sofreram aquela moléstia; porque cada um naquele combate havia disparado mais de quarenta tiros" (²).
Comparados a outras armas da época, os mosquetes eram pesadões e um tanto desajeitados. Carregar um deles e preparar o tiro demandava alguns minutos. Enquanto isso, o mosqueteiro, provavelmente rezando para não ser atingido pelo inimigo, trabalhava tão rápido quanto sua habilidade e treinamento permitiam. Finalmente, partia o tiro. Quanto ao alcance, qualquer arqueiro experiente faria melhor, mas, como arma de fogo que era, o mosquete produzia um estrago maior. Apesar de todos os inconvenientes, mosquetes - com aperfeiçoamentos, por suposto - continuaram em uso por bastante tempo.
Contrastem, leitores, os cerca de quarenta tiros ao todo disparados por Jerônimo Correa, fazendo uso de um mosquete do Século XVII, com a velocidade e precisão das armas automáticas atualmente disponíveis. Tem-se, desse modo, uma dentre as muitas razões que tornaram as guerras de hoje tão letais.
(1) Creio ser útil recordar que havia sempre indígenas nos combates, de um e outro lado.
(2) JABOATÃO, Antônio de Santa Maria O.F.M. Novo Orbe Serafico Brasilico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typ. Brasiliense, 1858, p. 217.
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Marta,
ResponderExcluirTivessem os mosqueteiros de que fala a aura e a agilidade dos companheiros de D'Artagnan, e outro galo cantaria. Contudo, para lá do flamejar do célebre autor francês, a realidade impôe-se: para lá da lentidão com que se carregavam os mosquetes, muitas vezes estes explodiam com o deflagrar da pólvora. O se texto fala em 40 disparos por cada mosquete? Tchi, que combate tão lento ou seja, desigual)!
Um bom fim-de-semana! :)
Era a tecnologia bélica da época. Ainda não haviam entrado na era da guerra em escala industrial, com canhões de tiro rápido e metralhadoras. Vê-se por que razão, nesse tempo, a guerra ainda concentrava certa aura de romantismo. Evidentemente, em nosso tempo, tudo isso acabou.
ExcluirTenha uma ótima semana. E, já que estamos mudando de estação, tenha um ótimo verão. Por aqui começa, oficialmente, o inverno.