quinta-feira, 11 de junho de 2020

Como um jovem se tornava cidadão romano

Para um adolescente romano, tonar-se cidadão envolvia mais que direitos políticos: mesmo havendo algumas variações ao gosto de cada família, como regra era ocasião também para uma cerimônia religiosa, que remetia a tradições muito antigas. 
Rapazes romanos usavam uma peça de vestuário chamada toga pretexta. Contudo, no tão esperado dia em que devia ser reconhecido como cidadão, o jovem fazia a barba pela primeira vez, cujos fios eram costumeiramente levados a um templo e oferecidos a uma divindade, e, desde então, passava a vestir a toga viril, que caracterizava os homens romanos. Depois de ir ao Foro em companhia do pai e, diante das autoridades, ser formalmente incluído no registro dos cidadãos, festejava a data com a família. Era, portanto, um verdadeiro (e, aparentemente, indolor) ritual de passagem. 
Acontece, meus leitores, que, a despeito de, em linhas gerais, ser este o costume, alguns adolescentes não tiveram o privilégio do reconhecimento como cidadãos sob as mesmas formalidades. O futuro imperador Calígula, por exemplo, tinha dezenove anos quando fez a barba pela primeira vez e passou a vestir a toga viril, sem que maiores cerimônias ocorressem (¹), e seu sucessor, o futuro imperador Cláudio, sequer passou pelo cerimonial sob a luz do dia: conduzido em uma liteira (talvez para que não o vissem), realizou o sacrifício no Capitólio por volta da meia-noite (²). Roma vivia dias turbulentos, e a sucessão imperial era resultado de intrigas, suborno e, não raro, de derramamento de sangue. Nada, portanto, seria exageradamente bizarro em tal contexto. 

(1) Cf. SUETÔNIO. De vita Caesarum, Livro IV.
(2) Ibid. Livro V.


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