Monarcas absolutos da Antiguidade, tratados como deuses ou representantes dos deuses, tinham à disposição numerosos servidores (¹), aos quais poderíamos, para usar a linguagem de nosso tempo, chamar de funcionários públicos. Entre essas figuras havia gente das mais diversas ocupações, incluindo cozinheiros e provadores de alimentos e bebidas, camareiros, médicos, adivinhos, integrantes da escolta e muitos outros. Em algumas culturas era usual que muitos desses funcionários fossem eunucos, e, como regra geral, a quantidade de servidores de um monarca era tanto maior quanto mais rico e poderoso fosse o território que ele controlava.
Aparentemente, não era mau negócio trabalhar na corte de um rei. Muitos funcionários eram mimados e acumulavam privilégios, alguns chegavam a ser amigos pessoais do monarca reinante. Compreende-se, porém, que em tal ambiente houvesse um dilúvio de intrigas palacianas (literalmente!). Contudo, o favoritismo podia acabar em um instante, se o servidor cometesse algum deslize, por mínimo que fosse, ainda que se tratasse de falha não intencional. Falando mais estritamente, às vezes nem era preciso cometer um erro para cair em desgraça: bastava uma mudança de humor do mandatário. Reizinhos metidos a deuses não pestanejavam em ordenar a imediata execução de um ex-favorito, que tinha sorte se o monarca, zelando pela fama de magnânimo, se abstivesse de impor torturas que tornassem a morte lenta e absurdamente dolorosa.
Neste relevo assírio o rei é retratado em companhia de um servidor que segura uma espécie de sombrinha, destinada a proteger o monarca dos raios escaldantes do sol (²) |
Aparentemente, não era mau negócio trabalhar na corte de um rei. Muitos funcionários eram mimados e acumulavam privilégios, alguns chegavam a ser amigos pessoais do monarca reinante. Compreende-se, porém, que em tal ambiente houvesse um dilúvio de intrigas palacianas (literalmente!). Contudo, o favoritismo podia acabar em um instante, se o servidor cometesse algum deslize, por mínimo que fosse, ainda que se tratasse de falha não intencional. Falando mais estritamente, às vezes nem era preciso cometer um erro para cair em desgraça: bastava uma mudança de humor do mandatário. Reizinhos metidos a deuses não pestanejavam em ordenar a imediata execução de um ex-favorito, que tinha sorte se o monarca, zelando pela fama de magnânimo, se abstivesse de impor torturas que tornassem a morte lenta e absurdamente dolorosa.
Talvez, a esta altura, alguns de meus leitores imaginem que estou exagerando. Vou dar um exemplo esclarecedor, para o qual chamo à ação Heródoto, o grego do Século V a.C., com suas Histórias, em que se conta sobre uma ocasião em que Dario, rei da Pérsia, ao descer do cavalo, torceu o tornozelo, a ponto de não poder andar. Que fazer? Segundo Heródoto, o rei "chamou de imediato os médicos que o serviam, vindos do Egito sob a consideração de que eram os melhores do mundo" (³). Todavia, o tratamento por eles aplicado em nada melhorou a situação do rei, que, sob fortes dores, sequer era capaz de dormir. Foi aí que, incidentalmente, entrou em cena um médico grego, Democedes de Crotona, que conseguiu devolver a saúde ao monarca, sendo, por isso, devidamente recompensado. Quanto aos médicos egípcios, só escaparam da morte por intervenção do colega grego: Dario havia decidido que seriam empalados.
(1) Afinal, eram deuses ou quase deuses, não é mesmo?
(2) LAYARD, Austen Henry. The Monuments of Nineveh. London: John Murray, 1853. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) HERÓDOTO. Histórias. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(2) LAYARD, Austen Henry. The Monuments of Nineveh. London: John Murray, 1853. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) HERÓDOTO. Histórias. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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