Mula com sela, esboço feito por Thomas Ender (¹) |
Toda atividade econômica tem, em paralelo, um conjunto de outras que lhe dão suporte e/ou que dela dependem. Não foi diferente com o transporte de cargas por tropas de muares, que predominou no Brasil até bem adiantado o Século XIX. Para dizer a verdade, em algumas regiões foi importante mesmo no Século XX.
Mulas (sobre)carregadas eram conduzidas por tropeiros; mas de onde vinham as mulas? Meus leitores, quero apresentar a vocês o muladeiro, que era, nem mais e nem menos, que o comerciante de mulas. Depois de adquirir animais em feiras, viajava longas distâncias, levando-os até seus potenciais compradores. Em Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais (²), Bernardo Guimarães assim descreve Eduardo, uma de suas personagens: "Era muladeiro; ia todos os anos à feira de Sorocaba ou Curitiba, a comprar bestas, que vendia pelas províncias de S. Paulo, Minas e Goiás."
Muladeiros exerciam uma atividade lucrativa (ao menos nos tempos áureos do tropeirismo), mas que tinha suas inconveniências. Fala ainda Bernardo Guimarães, na obra já citada:
"A vida do muladeiro [...] é rude e trabalhosa; exige uma contínua vigilância, uma atividade incessante. O muladeiro quase não larga os arrieiros (³) senão para deitar-se e repousar algumas horas. Tanger manadas [sic] de milhares de mulas bravias através de imensos e inóspitos sertões por matas, cerradões e campinas abertas, rodeá-las, repontá-las e contá-las todos os dias de manhã e de tarde, além de outras muitas fadigas e cuidados inerentes a esse gênero de vida, é tarefa para acabrunhar as mais ativas e robustas organizações, e pouco ou nenhum tempo pode deixar para pensar em amores."
A implantação de ferrovias conduziu à gradual extinção do transporte mediante tropas de muares. Em resultado, não foram poucas as profissões que desapareceram, e, dentre elas, a de tropeiro e a de muladeiro. Toda mudança, por positiva que seja, traz consequências, nem sempre previsíveis e de fácil manejo.
(1) O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) Publicado em 1872.
(3) Trabalhadores que cuidavam de muares.
Quem diria que lidar com mulas fosse tão exigente ao ponto de penalizar a vida amorosa dos muladeiros. Sou muito feliz por ter nascido num século onde os aviões e comboios nos levam rapidamente ao outro lado do mundo. Caso contrário, nunca teria ido à China, por exemplo.
ResponderExcluirAbraço
Ruthia
Há quinhentos anos, só iria à China em uma nau, toda de madeira, que parecia uma casca de ovo em meio ao oceano. E a viagem seria loooonga...
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