segunda-feira, 27 de junho de 2016

Terra arrasada, pilhagem e intimidação dos inimigos

Chama-se "tática de terra arrasada" a um procedimento às vezes adotado em guerra, quando, diante do avanço de um exército inimigo, resolve-se destruir, antecipadamente, tudo o que poderia facilitar sua sobrevivência. A manobra é arriscada, porque talvez signifique miséria e morte para os habitantes do próprio país, impossibilitando uma defesa eficiente. Embora essa prática tenha encontrado adeptos em tempos recentes, era conhecida, e até muito comum, desde a Antiguidade, quando os monarcas costumavam ordenar que até mesmo as fontes e poços fossem obstruídos, para que o mais básico dos suprimentos, a água, não estivesse ao alcance dos exércitos invasores. 
Por outro lado, nas guerras antigas também não era raro que um exército invasor, para aterrorizar os oponentes, destruísse tudo o que achava pelo caminho, a não ser, é claro, aquilo que poderia ser pilhado. Os assírios, por exemplo, não tinham dúvidas em devastar áreas de cultivo (colhendo, antes, para si mesmos, o que estivesse disponível), entulhar nascentes e espalhar pedras por áreas agricultáveis. Não surpreende, pois, afinal, eram os assírios!...
Mas os romanos também não pestanejavam em arruinar o território de seus inimigos. Sabemos, por relato de Políbio de Megalópolis, que durante o cerco a Siracusa (que durou cerca de dois anos), os cônsules Ápio e Marcelo, diante da dificuldade em derrotar essa aliada de Cartago, resolveram que o único modo de vencer seria impedindo que recebesse suprimentos. Como conseguir isso? Fazendo um bloqueio marítimo, para que os siracusanos não tivessem ajuda externa, e destroçando os campos adjacentes à cidade. Os romanos venceram. 
Outro partidário da pilhagem em guerra era ninguém menos que Júlio César. Registrou, ele mesmo, em De Bello Gallico:
"Indo em marcha para atacar os inimigos, César enviou por todo lugar a gente das cidades vizinhas, para queimar todas as casas e mais construções, e para saquear o que se achasse. As colheitas eram destruídas [...] de tal modo que, mesmo os que escapavam e iam juntar-se ao exército, acabariam morrendo em consequência de absoluta miséria." (¹)
Muitas vezes o plano de arrasar o território inimigo e saquear seus recursos funcionava. Mas o risco era óbvio: se o exército invasor fosse forçado a uma retirada, de que sobreviveriam os soldados?
Para concluir, menciono aqui um episódio de destruição e pilhagem em território brasileiro. Sim, no Brasil, meus leitores. Aconteceu em 1586, quando Martim Leitão comandava uma guerra contra indígenas da Paraíba. De acordo com Capistrano de Abreu, "sua ação sempre fecunda e prestigiosa pode resumir-se em poucas palavras: queimou navios, queimou pau-brasil já cortado, queimou aldeia, arrancou plantações, inutilizou mantimentos na baía da Traição, na serra da Capaoba, no Tijucopapo." (²) Não sei se Martim Leitão sabia alguma coisa das guerras da Antiguidade, mas não podemos negar que, em termos práticos, agiu no melhor estilo de Júlio César.

(1) Tradução de Marta Iansen para uso exclusivo no blog História & Outras Histórias. 
(2) ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de História Colonial: 1500 - 1800. Brasília, Ed. Senado Federal, 1998, p. 69.


Veja também:

2 comentários:

  1. Na guerra vale tudo, costuma dizer-se. Instinto básico, portanto.

    Uma boa semana :)

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    1. Não sei se vale tudo; nunca passei por uma guerra, mas minha mãe costumava dizer que não se pode medir as ações de uma pessoa submetida à pressão de uma guerra pelos mesmos critérios de um dia a dia "normal", em tempo de paz. Acho que, até certo ponto, ela tinha razão e, portanto, você também tem rsrsrssss...

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