sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O triunfo romano, desfile dos generais vencedores e seus exércitos

Na Roma Antiga o triunfo era a máxima homenagem concedida a um general vitorioso e suas tropas, que desfilavam com todos os objetos valiosos capturados ao inimigo derrotado. Não raro prisioneiros de guerra eram também arrastados diante dos vencedores, com a intenção de mostrar a força dos conquistadores, prevenindo rebeliões entre os povos dominados.
Tito Lívio (¹) assim descreveu o triunfo celebrado em honra de Lúcio Quíncio Cincinato, no ano 457 a.C.: "Os capitães do inimigo derrotado eram arrastados diante de sua carruagem; precediam-no as insígnias militares, vindo depois todo o exército carregando o botim de guerra." (²)
Representação de um triunfo romano (⁵)
Sem poupar palavras, o mesmo Tito Lívio narrou também a grandiosidade do triunfo celebrado em honra do cônsul Lúcio Emílio Paulo (³), que derrotou a Macedônia em 168 a.C., cujo rei era, então Perseu. O triunfo durou três dias, e foi assim descrito:
"Foi aquele triunfo, fosse pela grandeza do monarca vencido, pela beleza das estátuas ou pela quantidade de dinheiro conquistado, maior que nenhum outro, ultrapassando em magnificência todos os triunfos anteriormente realizados. No primeiro dia foram trazidas as estátuas conquistadas, carregadas em duzentas e cinquenta carruagens. O dia seguinte foi gasto em apresentar carruagens carregadas do que havia de mais belo e deslumbrante entre as armas macedônicas [...]. Em seguida, três mil homens transportavam setecentos e cinquenta vasos, repletos de prata amoedada [...]. Finalmente, no terceiro dia, o cortejo foi aberto pelos trombeteiros, seguidos por cento e vinte bois com chifres dourados e enfeitados com guirlandas. Vinha então o carro de Perseu, com suas armas e sua coroa, tendo atrás a multidão de prisioneiros, e em seguida os filhos do rei, acompanhados de seus professores. Depois dos filhos, vinha o próprio Perseu e sua mulher, atordoados por tanta desventura. Vinham depois quatrocentas coroas de ouro, mandadas como presente a Lúcio Emílio Paulo por quase todas as cidades da Grécia e da Ásia, como cumprimentos pela vitória. Por último, com grande majestade, tanto por seu aspecto digno como por ser idoso, vinha o próprio cônsul Lúcio Emílio sobre um carro triunfal. Seguiam-no homens ilustres, a cavalaria e as coortes pedestres, em sua respectiva ordem."(⁴)
Face a um revés em combate, a maioria dos inimigos de Roma recorria o suicídio, que na época era considerado uma saída honrosa. Se capturados vivos, os principais chefes políticos e militares vencidos eram, depois de devidamente acorrentados, submetidos à terrível humilhação de serem arrastados no cortejo do triunfo. Aliás, isso era apenas parte do processo de tortura, já que, ao cabo do trajeto, não era nada incomum que os inimigos fossem alvo das formas mais cruéis de execução. 
É desnecessário dizer que, como espetáculo público, os triunfos eram apreciadíssimos em Roma. Além disso, é possível afirmar que, sob o aspecto político, tinham um propósito duplamente terapêutico:
a) Internamente, levantavam o ânimo da população e funcionavam como instrumento para assegurar o apoio dos governados, tanto entre as camadas populares como entre o patriciado;
b) No plano externo, ajudavam a impor o medo entre os povos vizinhos, fossem eles aliados de Roma ou derrotados propensos a um levante.

(1) 59 a.C. - 17 d.C..
(2) Ab urbe condita libri. O trecho citado é tradução de Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) Por haver derrotado a Macedônia, o cônsul Lúcio Emílio Paulo recebeu o apelido de "Macedônico".
(4) Pensem os leitores em que é que acabou o poderoso império do qual Filipe e seu filho Alexandre, o Grande, haviam sido expoentes.
(5) ROSSI, Filippo de. Ritratto di Roma Antica. Roma: Francesco Moneta, 1645, p. 192. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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9 comentários:

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    1. Espero que seja um pouquinho divertido, também rsrsrsssss
      Obrigada pela visita ao blog. Já andei acompanhando a sua "cadeirinha de arruar".

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  2. Neste triunfo, Quinto Fábio Maximo Emiliano estava presente com o pai de sangue no carro triunfal? E tinham um escravo a lembrar-lhes da mortalidade? Já agora, tanto Quinto Fábio Máximo Serviliano e Q. Fábio Máximo Emiliano foram adotados por Quinto Fábio Máximo, sendo um filho de Cn. Servilio Cipião e outro filho de Lúcio Emílio Paulo, certo?

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    1. Olá, Bruno Matos, essa é, de fato, uma das histórias infelizes de Roma. Lúcio Emílio Paulo teve quatro filhos do sexo masculino, porém, seguindo um costume muito comum em Roma, os dois mais velhos foram adotados por outras famílias (uma prática com fundamentos religiosos e de muita utilidade política). Então, Fábio M. Emiliano foi adotado por Fábio Máximo, enquanto Públio Cornélio Cipião Emiliano entrou para a mais que famosa (e poderosa) família de Públio Cornélio Cipião. Tudo andaria na maior normalidade, não fora o fato de que os dois filhos mais novos de L. Emílio Paulo morreram antes da idade adulta, o que significou para ele o fim de sua linha sucessória. Trágico, sem dúvida, para o conquistador da Macedônia.

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  3. Ok, é que eu estou a preparar um trabalho e tenho recolhido informação diferente de fontes diferentes. Numa li que tinha sido Emiliano a receber o triunfo da vitória sobre o rei Perseu em nome do pai biológico e não Emílio Paulo. Também não tenho a certeza se Serviliano era irmão de Emiliano, embora fossem os dois adotados, sendo que o pai adotivo deles seria descendente do grande Quinto Fábio Maximo verrucosus...

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    1. Já deu uma olhada na biografia de Emílio Paulo em Vitae parallelae de Plutarco?

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  4. Já estive a ler, e realmente não há referência à presença de Emiliano a receber o triunfo em nome do pai... só falta confirmar que serviliano também foi adotado por Quinto Fábio Maximo... ;)

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    1. Talvez então uma vista em Res Romanae (Apiano) e/ou Ab Urbe condita libri (Tito Lívio)?

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