A seguinte anedota apareceu no nº 1, volume 5, da Bibliotheca Familiar e Recreativa, publicada em Lisboa no ano de 1836:
"Um certo cura disse um domingo aos seus fregueses:
- Irmãos, daqui em diante, para evitar confusões, eu confessarei pela ordem seguinte: segunda-feira, os mentirosos; terça, os avarentos; quarta, os maldizentes; quinta, os ladrões; sexta, os libertinos; sábado, as mulheres de vida escandalosa.
Será talvez escusado acrescentar que o cura nunca mais teve o trabalho de confessar pessoa alguma, que é o que ele queria." (¹)
"Um certo cura disse um domingo aos seus fregueses:
- Irmãos, daqui em diante, para evitar confusões, eu confessarei pela ordem seguinte: segunda-feira, os mentirosos; terça, os avarentos; quarta, os maldizentes; quinta, os ladrões; sexta, os libertinos; sábado, as mulheres de vida escandalosa.
Será talvez escusado acrescentar que o cura nunca mais teve o trabalho de confessar pessoa alguma, que é o que ele queria." (¹)
Ora, meus leitores, se o padre Belchior de Pontes, jesuíta que viveu no Brasil do Século XVII e começo do XVIII, tivesse, em seu tempo, conhecimento desse expediente, talvez até lhe fosse muito útil. Querem saber por quê?
O também jesuíta Manoel da Fonseca, que ainda no Século XVIII publicou uma biografia do padre Pontes, escreveu:
"E se alguma vez, ouvindo confissões na nossa igreja [...], via contenderem entre si, como costumam as mulheres [sic], para terem a fortuna de serem as primeiras que chegassem a confessar-se, procurava sossegá-las, prometendo que a todas havia de ouvir, e para que a brevidade do tempo não fizesse menos verdadeira a promessa, e nos deixasse este grande exemplo de sua obediência, acrescentava, que se não obstasse a obediência, deixaria de ir ao refeitório para ter mais tempo de ouvi-las." (²)
Não venha algum leitor perguntar por que é que as tais senhoras tinham tamanha obsessão por ir ao confessionário. Nenhuma delas sobreviveu até hoje para dar explicações. Ninguém pergunte, tampouco, como tinha o padre tanta paciência. Supondo, porém, verídico o relato, não se pode negar que o padre Belchior de Pontes cuidava de seus deveres com muita seriedade.
(1) _________ Bibliotheca Familiar e Recreativa nº 1, vol. 5. Lisboa: Imprensa Nevesiana, 1836, p. 228.
(2) FONSECA, Manoel da, S.J. Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes, da Companhia de Jesus da Província do Brasil. Lisboa: Off. de Francisco da Silva, 1752, p. 48. Reedição da Cia. Melhoramentos de S. Paulo.
Veja também:
Anedotas do tempo do Portugal católico. Muito bom. Acredito que ainda hoje, em algumas igrejas do interior, o cura tenha muitos fregueses.
ResponderExcluirAbraço
Ruthia d'O Berço do Mundo
Hmmm, esta foi em uma cidade do litoral norte de São Paulo: era véspera de Natal, quase à hora da chamada "Missa do Galo". Passei perto da igreja principal e vi uma fila enorme que, saindo a igreja, atravessava a praça que havia diante dela. Quase morrendo de curiosidade, fui ver do que se tratava. Era a fila do confessionário. Dois padres estavam tendo muitíssimo trabalho, não sei como era possível cumprir as formalidades com uns poucos segundos para atender a cada pessoa que estava na fila...
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