Um escravo fugitivo era, quando capturado, geralmente conduzido a uma casa de correção, até que seu senhor - em pessoa ou através de um procurador - apresentasse a documentação comprobatória do direito de propriedade. Voltava, então, ao lugar de trabalho, e, como sinal de ser "fujão", como se se dizia, passava a ostentar em público um horrível colar de ferro. O missionário e pastor metodista Daniel Kidder (¹) observou, no Rio de Janeiro, alguns escravos que usavam a tal "condecoração", e anotou em suas memórias:
"Alguns desses infelizes - como outros que se encontravam diariamente nas ruas - usavam enorme colarinho de ferro com uma extremidade que se projetava para cima, do lado da cabeça. Esse cruel distintivo geralmente indicava um escravo egresso que havia sido recapturado." (²)
Outro sinal público para infamar um escravo era o uso de uma máscara de lata, que era atada ao escravo cada vez que saía à rua. Era colocada para evitar que o cativo (ou cativa) ingerisse bebidas alcoólicas. Em um artigo de jornal, relembrando tempos de sua infância, Machado de Assis escreveu:
"Alegres eram umas máscaras de lata que vi em pequeno na cara de escravos dados à cachaça; alegres ou grotescas, não sei bem, porque lá vão muitos anos, e eu era tão criança, que não distinguia bem." (³)
Alegres ou grotescas? Deixo a critério dos leitores a decisão. É fato, porém, que tanto os colares de ferro quanto as máscaras serviam para estigmatizar escravos que, de algum modo, tentavam fugir àquilo que se esperava deles: trabalho e subordinação irrestrita à vontade de seus senhores.
Escravos portando colar de ferro e máscara de lata (⁴) |
(1) Nascido nos Estados Unidos, residiu em território brasileiro entre 1837 e 1840.
(2) KIDDER, Daniel P. Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil. Brasília: Senado Federal, 2001, p. 91.
(3) GAZETA DE NOTÍCIAS, "A Semana", 26 de junho de 1892.
(4) ______ Brasilian Souvenir. Rio de Janeiro: Ludwig & Briggs, 1845. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(4) ______ Brasilian Souvenir. Rio de Janeiro: Ludwig & Briggs, 1845. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.