sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Pedro Vaz de Barros e a fartura de sua mesa

Hospedagem principesca nos tempos coloniais


Pedro Vaz de Barros, fundador da capela de São Roque, que deu origem à cidade de mesmo nome no Estado de São Paulo,  foi um dos homens mais ricos de seu tempo (segunda metade do Século XVII) - pelo menos é o que assegura a Nobiliarchia Paulistana, de Pedro Taques de A. Paes Leme. 
De acordo com o mesmo autor, a casa de Pedro Vaz de Barros vivia cheia de visitas. Como verão os leitores, não era para menos. A fim de manter satisfeitos os hóspedes que iam e vinham, era preciso uma cozinha eficiente, e que eficiência era essa! Conta a Nobiliarchia:
"Todos eram agasalhados com grandeza daquela mesa, na qual com muita profusão havia pão e vinho da própria lavoura, e as iguarias eram vitelas, carneiros e porcos, além das caças terrestres e voláteis, das quais os seus caçadores [...] conduziam com fartura, e por isso de tudo havia com abundância, e com tanta prevenção que, a qualquer hora da tarde que chegavam novos hóspedes, estava a mesa pronta, como se para estes fora conservada."
Pedro Taques escreveu a Nobiliarchia quando Pedro Vaz de Barros e seus contemporâneos já eram há muito falecidos, de modo que uma dose de exagero não pode ser descartada nessa história (*), mas os senhores leitores sabem muito bem que, naqueles tempos, não havia hotéis em terras do Brasil, e, por essa razão, era esperado que as pessoas que dispunham de recursos recebessem em casa os viajantes. Não ficava tal prática restrita à Capitania de São Vicente. Podia ser encontrada, por exemplo, nos engenhos de cana do Nordeste. Mas a fartura oferecida à mesa de Pedro Vaz de Barros devia ser pouco usual, ou Pedro Taques não iria falar dela com tanta admiração.
Menciona-se ainda, a respeito de Pedro Vaz de Barros, um detalhe curioso, que remete aos tempos em que, de portas adentro, era a língua indígena que predominava em São Paulo:
"Foi cognominado Grande, chamando-se-lhe assim pelo idioma brasílico: Pedro Vaz Guaçu, que quer dizer grande."
Ah, um outro detalhe, também da Nobiliarchia. Pedro Vaz de Barros, ou Vaz Guaçu, como queiram os leitores, ao contrário da regra geral de seu tempo, nunca se casou. Porém... Porém "teve vários filhos bastardos, havidos em diversas mulheres, que por todos foram nove". Para sua época, até que não foram muitos.

(*) Dizem que "quem conta um conto, acrescenta um ponto"...


Veja também:

2 comentários:

  1. Marta, não gostava de viajar no tempo e, ainda que uma única vez, espreitar aquele ambiente? Confirmar se houve muito ou pouco exagero por parte do narrador?
    Deve ser um desejo secreto da maior parte dos historiadores, não concorda?
    Beijinhos
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Há situações em que todos nós gostaríamos de viajar no tempo, desde que pudéssemos retornar quando fosse mais conveniente. Do contrario, seria muito arriscado.

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