Como era estruturado o Calendário Republicano
Na febre de remover tudo o que recordava o Antigo Regime, as lideranças revolucionárias na França da Convenção Nacional decidiram criar um novo calendário, que nem de leve remetesse os usuários às crenças judaico-cristãs. Foi assim que nasceu o Calendário Republicano, que vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805. Napoleão Bonaparte encarregou-se de colocar-lhe um termo, ainda que durante a chamada Comuna de Paris (1871) tenha passado por uma brevíssima ressurreição, para, em seguida, ser definitivamente sepultado.
Na febre de remover tudo o que recordava o Antigo Regime, as lideranças revolucionárias na França da Convenção Nacional decidiram criar um novo calendário, que nem de leve remetesse os usuários às crenças judaico-cristãs. Foi assim que nasceu o Calendário Republicano, que vigorou de 22 de setembro de 1792 a 31 de dezembro de 1805. Napoleão Bonaparte encarregou-se de colocar-lhe um termo, ainda que durante a chamada Comuna de Paris (1871) tenha passado por uma brevíssima ressurreição, para, em seguida, ser definitivamente sepultado.
Para quem ficou curioso por saber como era estruturado o novo calendário, vamos à explicação. Era mantido o mesmo número de meses do calendário juliano/gregoriano - doze, portanto - sendo trinta os dias de cada mês, com um acréscimo de cinco dias a cada ano, para totalizar 365. Os anos bissextos tinham, por suposto, um acréscimo de seis dias.
Os meses tinham, pela ordem, os seguintes nomes: Vindemiário, Brumário, Frimário, Nivoso, Pluvioso, Ventoso, Germinal, Floreal, Pradial, Messidor, Termidor e Frutidor. Ufa!...
Cada mês era dividido em três "semanas" de dez dias (que tal, leitores?), que eram denominadas décadas. Tentou-se criar também um sistema de horas com base decimal, mas sem sucesso na prática.
Datas famosas no Calendário Republicano
Datas famosas no Calendário Republicano
Um exemplo de data importante que ficou conhecida por sua designação no Calendário Republicano é 9 Termidor do Ano II, que corresponde a 27 de julho de 1794, ou seja, o ponto final ao "Reinado do Terror". Robespierre e outras figuras adoráveis foram aprisionados e executados. Na guilhotina, evidentemente.
Uma outra data acabou por ser ainda mais notável: 18 Brumário, ou 9 de novembro. Nesse dia, em 1799, um golpe de Estado pôs fim ao Diretório, de modo que o governo passou a ser exercido pelo Consulado, tendo à frente o general Napoleão Bonaparte, no cargo de primeiro-cônsul. Era o fim da Revolução Francesa.
Mais de meio século mais tarde, Luís Napoleão (sobrinho de Napoleão Bonaparte), também através de um golpe, viria a ser imperador da França, com o título de Napoleão III. Esse acontecimento propiciou a Karl Marx a oportunidade de resgatar uma ideia de tremendas implicações históricas, segundo a qual os grandes acontecimentos sucedem duas vezes. Escreveu ele em O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte:
Mais de meio século mais tarde, Luís Napoleão (sobrinho de Napoleão Bonaparte), também através de um golpe, viria a ser imperador da França, com o título de Napoleão III. Esse acontecimento propiciou a Karl Marx a oportunidade de resgatar uma ideia de tremendas implicações históricas, segundo a qual os grandes acontecimentos sucedem duas vezes. Escreveu ele em O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte:
"Hegel afirmou em algum lugar que todos os grandes eventos, bem como personagens da História mundial, ocorrem duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: a primeira como Tragédia, a segunda como Farsa." (¹)
Neste ponto talvez seja útil lembrar que a ideia da dupla ocorrência de grandes eventos e personagens não foi invenção de Hegel - ela é muitíssimo mais antiga. Mas prossigamos, considerando o elemento original proposto por Marx, ou seja, o par tragédia / farsa.
Os leitores entendem, naturalmente, que Marx estava a referir-se à tragédia e à farsa no sentido que lhes atribui a arte dramática, o que até dispensaria maiores comentários. Não sem sarcasmo, sugeria que a investida política de Luís Napoleão não passava de uma comediazinha burlesca, quando comparada às ações lideradas por seu famoso tio. É óbvio, no entanto, que Marx não estava propondo que todo e qualquer acontecimento, por trivial que fosse, teria, em outra circunstância, uma repetição.
"18 Brumários" fora da França
Resta lembrar que muitos outros "18 Brumários" ainda aconteceram nos novembros que a humanidade tem presenciado. A história da Alemanha registra, curiosamente, uma série de eventos a 9 de novembro, alguns de feliz memória, e outros, lamentáveis: em 1918, foi o fim do Império, seguido da proclamação da República; em 1923, o Putsch de Munique (²); em 1938 a Kristallnacht; em 1989, a queda do muro de Berlin, só para citar alguns.
"18 Brumários" fora da França
Resta lembrar que muitos outros "18 Brumários" ainda aconteceram nos novembros que a humanidade tem presenciado. A história da Alemanha registra, curiosamente, uma série de eventos a 9 de novembro, alguns de feliz memória, e outros, lamentáveis: em 1918, foi o fim do Império, seguido da proclamação da República; em 1923, o Putsch de Munique (²); em 1938 a Kristallnacht; em 1989, a queda do muro de Berlin, só para citar alguns.
(1) MARX, Karl. Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte 2ª ed. Hamburg: Otto Meissner, 1869, p. 1. O trecho citado é tradução de Marta Iansen para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(2) Tentativa fracassada de golpe por parte de nazistas; também conhecido como Putsch da Cervejaria.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.