Relatos dos primeiros tempos coloniais dão conta de que as baleias eram, então, muito numerosas no litoral brasileiro, a tal ponto que a Coroa concedia o monopólio de sua captura àquele que fizesse a proposta mais vantajosa. Ao traçar a biografia do padre José de Anchieta, Simão de Vasconcelos, jesuíta que escreveu no Século XVII, observou que, ao caminhar pelas areias de Itanhaém, seu biografado achava, pelo caminho, restos de baleias que por ali haviam encalhado:
"É a praia desta costa, por onde caminhava, tão áspera e dura, que um carro bem carregado não deixa sinal nela, e comumente embaraçada com armações desfeitas de corpos de baleias, que ali se dão à costa, cujos ossos perturbam, impedem a praia e fazem o caminho mais áspero; contudo esse mesmo caminho era a recreação de José, a pé, comumente descalço, costume seu em todas as mais peregrinações." (*)
Se vivesse no Século XXI, e supondo que caminhasse descalço pelas praias do Brasil, Anchieta não teria, por certo, que topar a cada passo com vestígios de baleias. Elas são, hoje, muito menos numerosas (por que seria?!!), embora vez ou outra, alguma ainda encalhe num ponto qualquer do litoral, dependendo então da boa vontade de ambientalistas dedicados para voltar a nadar, feliz da vida, pelas águas do Atlântico.
Esqueleto de baleia exposto em Ubatuba - SP |
(*) VASCONCELOS, Pe. Simão de S. J. Vida do Venerável Padre José de Anchieta. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1672, p. 169.
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