terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Como eram feitos os quartos para hóspedes na vila de São Paulo

A hospitalidade, no Brasil Colonial, não só era vista como um dever, mas como uma necessidade. Não havia hotéis, é claro, e quem viajava precisaria encontrar hospedagem nas residências de famílias, se não quisesse passar a noite ao relento.
A menos, porém, que os hóspedes fossem pessoas de importância ou parentes próximos, havia, quase sempre, a preocupação de mantê-los distantes da família, especialmente o mais longe possível das mulheres da família (¹). Para isso, os compartimentos da casa destinados a quem se hospedava deviam ser de difícil comunicação com a área reservada ao convívio doméstico. 
Com essa premissa, não se oferece dificuldade para a compreensão do que escreveu o padre Manoel da Fonseca, autor setecentista: "[...] em São Paulo [...] costumam seus moradores fabricar nas suas fazendas recâmaras para os hóspedes de tal sorte unidas à casa, que, ficando da parte de fora, se possam servir sem detrimento, e independentes da mais família." (²)
Observaram leitores, as expressões "da parte de fora" e "independentes da mais família"? Quem precisa de mais explicações?

(1) Lembrando que as residências eram, nesse tempo, dotadas de gelosias, compreende-se melhor os costumes e as obsessões de uma sociedade marcada por forte segregação feminina.
(2) FONSECA, Manoel da, S.J. Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes, da Companhia de Jesus da Província do Brasil. Lisboa: Off. de Francisco da Silva, 1752, p. 59. Reedição da Cia. Melhoramentos de S. Paulo.


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