terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A mameluca Suzana Dias

Gostemos disso ou não, quase todas as pessoas a quem documentos antigos dão destaque eram do sexo masculino. Há muitas razões que explicam tal fenômeno, mas não é disso que trataremos agora. Vamos a uma exceção, de quem Pedro Taques de Almeida Paes Leme, escrevendo no Século XVIII, se ocupou longamente na Nobiliarchia Paulistana:
"Suzana Dias foi irmã do capitão-mor Belchior Carneiro, que penetrou o sertão da Parnaíba em 1608 a descobrimento de minas de ouro ou de prata, que ficaram sem efeito por falecer no mesmo ano a 29 de setembro [...]. Sua irmã dita Suzana Dias faleceu em Parnaíba com testamento a 2 de setembro de 1634 [...]. Foi filha de Lopo Dias e de sua primeira mulher Beatriz Dias, a qual foi filha do rei de Piratininga Teveriçá (¹), o qual depois da sagrada fonte (²) se chamou Martim Afonso Teveriçá [...]." 
Monumento em homenagem a Suzana Dias
em Santana de Parnaíba - SP
Apesar das palavras de Pedro Taques, é discutível em que grau Suzana Dias descendia do chefe indígena Tibiriçá, assim como permanece desconhecida a data de seu nascimento. Uma coisa é certa, porém: Suzana Dias era mameluca, filha de um colonizador de origem lusitana e de uma mulher de linhagem indígena. Nesse sentido, foi ela um exemplo típico do povoamento em São Paulo nesses tempos já distantes, nos quais a língua de Portugal era falada nas ruas, se tanto, enquanto, por influência materna (³), dentro de casa todo mundo se expressava no falar indígena, nascendo, daí, curiosas expressões mistas de um e outro idioma. Hábitos, costumes e tradições de ambas as culturas iam se amalgamando. Era a dinâmica da colonização.
Em Santana de Parnaíba - SP, um pequeno monumento recorda Suzana Dias. Na placa se lê: "Homenagem a Suzana Dias (segunda metade do Século XVI - 1634) - filha de Beatriz, da estirpe do Cacique Tibiriçá, e do português Lopo Dias, que juntamente com seu filho André Fernandes, fundaram esta cidade." 
Suzana Dias foi casada com Manoel Fernandes Ramos, português, e, após o falecimento deste, com Melchior da Costa. Seus descendentes foram notáveis exploradores, indo cada vez mais longe, guiados pelas águas do rio Tietê. Aqui e ali, fundaram novos núcleos de povoamento, que hoje são cidades, e, por essa razão, ficaram conhecidos como "Fernandes povoadores".

(1) O cacique Tibiriçá.
(2) Referência ao batismo do chefe indígena.
(3) Em parte devido ao número reduzido de mulheres de origem portuguesa vivendo em São Paulo na época.


2 comentários:

  1. Quase apetece pensar que para Susana Dias, a Mameluca, "quem não trabuca, não manduca".
    Não sei se se aplica, Marta, mas falou mais alto a tentação da rima. :)

    Um beijinho :)

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    Respostas
    1. Estou rindo até agora rsrsrssssss. De fato, trabucos eram as armas por excelência nesses tempos já distantes, para quem vivia na Capitania de São Vicente, e ia ao sertão para apresamento de indígenas e para procurar metais preciosos.
      Obrigada por comentar, tenha uma ótima semana!

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