Conselhos para os marinheiros que cruzavam o Atlântico no Século XVIII
Tudo que já se escreveu sobre os perigos e sofrimentos das viagens marítimas do passado talvez seja ainda insuficiente para dar conta das cenas de horror, aliás muito frequentes, de que as embarcações eram palco.
Nem poderia ser diferente, quando uma porção de gente passava meses no mar, enfrentando a fúria das tempestades ou semanas inteiras de calmaria (o que seria pior?), com a mais lamentável alimentação, não poucas vezes com falta de água e, até por consequência, em contínua exposição a doenças, algumas causadas por desnutrição severa, outras por absoluta falta de higiene. Isso tudo em companhia de animais que viajavam vivos, até o momento em que deviam virar comida, pra não falar dos que iam mesmo sem convite: ratos, por exemplo.
No Século XVIII um grupo de embarcações saiu do Brasil em comboio, uma prática comum na época, para dar alguma segurança, e tomou o rumo de Lisboa, onde poucos dos que empreenderam a viagem chegaram vivos, depois da mais cruel tempestade. Um dos sobreviventes, Elias Alexandre e Silva, escreveu e publicou a Relação ou Notícia Particular da Infeliz Viagem da Nau de Sua Majestade Fidelíssima, Nossa Senhora da Ajuda e São Pedro de Alcântara do Rio de Janeiro Para Lisboa (para que um título tão grande...), na qual contou toda a desgraça que havia presenciado. Por isso mesmo, fez, logo de saída, uma importante recomendação aos que faziam a rota do Atlântico: deviam ter sempre, em cada embarcação, "paus, massame, mantimentos e aguada, mais do que até aqui se julgava necessário, para se navegar com bonanças, e, sobretudo, [...] um leme sobressalente, que somente costumam levar as naus da Índia, como se Éolo e Netuno só naqueles mares fossem soberbos." (*)
Convém explicar que era preciso levar madeira para o caso de algum conserto indispensável na embarcação, assim como massame, que bem poderia ser útil em caso de avarias decorrentes do mau tempo. Resta indagar se era viável levar mais água e alimentos, tendo em conta a capacidade limitada de cada navio. Já quanto a ter um leme adicional não cabem objeções. Quem porventura estiver disposto a ler a obrinha escrita por Elias Alexandre e Silva não demorará a entender o motivo de sua tão enfática quanto prudente recomendação.
(*) SILVA, Elias Alexandre e. Relação ou Notícia Particular da Infeliz Viagem da Nau de Sua Majestade Fidelíssima, Nossa Senhora da Ajuda e São Pedro de Alcântara do Rio de Janeiro Para Lisboa. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1778, p. 2.
(*) SILVA, Elias Alexandre e. Relação ou Notícia Particular da Infeliz Viagem da Nau de Sua Majestade Fidelíssima, Nossa Senhora da Ajuda e São Pedro de Alcântara do Rio de Janeiro Para Lisboa. Lisboa: Regia Officina Typografica, 1778, p. 2.
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