terça-feira, 20 de novembro de 2012

Carros de bois - Parte 3

Bois que trabalhavam nos carros e nas engenhocas


Já há neste blog uma postagem sobre a diferença que havia, nos tempos coloniais, entre os chamados engenhos reais e as engenhocas. Como bem o expressou Antonil, "os reais ganharam este apelido por terem todas as partes de que se compõem e todas as oficinas perfeitas, cheias de grande número de escravos, com muitos canaviais próprios, e outros obrigados à moenda, e principalmente por terem a realeza de moerem com água, à diferença de outros, que moem com cavalos e bois, e são menos providos e aparelhados, ou pelo menos com menor perfeição e largueza, das oficinas necessárias, e com pouco número de escravos para fazerem, como dizem, o engenho moente e corrente." (¹)
Por hora nos interessam apenas as engenhocas, também chamadas de trapiches, pelo fato de que empregavam animais na moenda, em lugar da roda d'água dos engenhos reais. Nelas, eram os bois (ou outros animais) que passavam horas intérminas a girar, girar, girar... para que se extraísse o caldo da cana, destinado à produção de açúcar e/ou de aguardente, sendo a última o que mais comumente se fazia nas engenhocas. Apenas máquinas de moer muito pequenas é que eram, eventualmente, movidas à força de escravos.
A ilustração abaixo, que apareceu em publicação holandesa no século XVII, mostra uma engenhoca em funcionamento, podendo ver-se nela o trabalho de bois:

Moenda de uma engenhoca funcionando com o trabalho de bois (²)

Assim, sendo necessário muito cuidado na escolha de bois para os carros, conforme se explicou na postagem anterior, era igualmente importante saber administrar os bois que trabalhariam nos engenhos:
"Se moendo com água e usando de barcos para a condução da cana, é necessário ter no engenho quatro ou cinco carros, com doze ou quatorze juntas de bois muito fortes, quantos haverá mister quem mói com bestas e bois, e tem cana própria, para se conduzir de longe à moenda? Advirta-se muito nisto, para se comprarem a tempo os bois, e tais quais são necessários, dando antes oito mil réis por um só boi manso e redondo, do que outro tanto por dois pequenos e magros, que não têm forças para aturarem no trabalho." (³)

(1) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711 - proêmio.
(2) PISO/PIES, Willen et MARKGRAF, Georg. Historia Naturalis Brasiliae. Amsterdam: Ioannes de Laet, 1648. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Op. cit. pp. 45 e 46.


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