O transporte da cana-de-açúcar até os engenhos coloniais
Nos tempos coloniais os carros de bois tinham importância vital para a atividade econômica mais valorizada em boa parte do Brasil: a produção do açúcar de cana. Eram os bovinos que se empregavam em carros para fazer a cana ir da lavoura até os engenhos, de modo que Antonil recomendava aos senhores de engenho o máximo cuidado na seleção dos animais que se destinavam ao trabalho, já que não havia boas estradas e os caminhos, em dias chuvosos, podiam ser demasiadamente difíceis para os carros de bois:
"Conduzir a cana por terra em tempo de chuvas e lamas é querer matar muitos bois, particularmente se vieram de outra parte magros e fracos, estranhando o pasto novo e o trabalho. [...] Por isso os bois, que vêm do sertão cansados e maltratados no caminho, para bem não se hão de pôr no carro, senão depois de estarem pelo menos ano e meio no pasto novo, e de se acostumarem pouco a pouco ao trabalho mais leve, começando pelo tempo do verão, e não no do inverno; de outra sorte, sucederá ver o que se viu em um destes anos passados, em que morreram só em um engenho duzentos e onze bois, parte nas lamas, parte na moenda e parte no pasto. (¹)
Havia também a possibilidade de se realizar o transporte da cana em barcos, fosse porque as lavouras e o engenho estavam perto de um rio navegável, fosse porque o engenho, localizado à beira-mar, ensejava o uso da navegação marítima para que se fizesse chegar a cana até as moendas. Sim, isso era possível, mas, de qualquer modo, os carros de bois eram o meio mais frequentemente empregado, daí a prescrição de Antonil no sentido de se dar aos bois, que vinham do sertão, um tempo adequado para que se adaptassem ao trabalho. Curiosamente, jamais vi recomendação semelhante em relação aos escravos!
(1) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 45.
(1) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 45.
(2) O original pertence à Biblioteca Nacional; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
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