A julgar pelas ilustrações que podem ser vistas em alguns livros didáticos, os engenhos de açúcar do Brasil colonial eram um território essencialmente masculino. Escravas? Sim, mas dentro da casa-grande, nos trabalhos domésticos. No entanto, essa é uma visão intrinsecamente equivocada. Na pequena série que inicio com esta postagem veremos, a partir da obra de Antonil (¹), quais eram, de fato, os trabalhos entregues às escravas. Testemunha ocular do que se passava nos maiores engenhos do Nordeste, esse notável jesuíta deixou um relato muito diferente daquele que poderia ser sugerido pelas representações convencionais.
"As mulheres usam de foice e de enxada, como os homens, porém nos matos somente os escravos usam de machado."(²)
E, no corte da cana, homens e mulheres trabalhavam, ainda que, segundo Antonil, houvesse uso frequente de uma divisão de tarefas:
"Assim os escravos como as escravas se ocupam no corte da cana, porém comumente os escravos cortam e as escravas amarram os feixes. Consta o feixe de doze canas e tem por obrigação cada escravo cortar em um dia sete mãos de dez feixes por cada dedo, que são trezentos e cinquenta feixes, e a escrava há de amarrar outros tantos com os olhos da mesma cana; e se lhes sobejar tempo, será para o gastarem livremente no que quiserem, o que não se concede na limpa da cana, cujo trabalho começa desde o sol nascido até o sol posto, como também em qualquer outra ocupação que se não dá por tarefa." (³)
"As mulheres usam de foice e de enxada, como os homens, porém nos matos somente os escravos usam de machado."(²)
E, no corte da cana, homens e mulheres trabalhavam, ainda que, segundo Antonil, houvesse uso frequente de uma divisão de tarefas:
"Assim os escravos como as escravas se ocupam no corte da cana, porém comumente os escravos cortam e as escravas amarram os feixes. Consta o feixe de doze canas e tem por obrigação cada escravo cortar em um dia sete mãos de dez feixes por cada dedo, que são trezentos e cinquenta feixes, e a escrava há de amarrar outros tantos com os olhos da mesma cana; e se lhes sobejar tempo, será para o gastarem livremente no que quiserem, o que não se concede na limpa da cana, cujo trabalho começa desde o sol nascido até o sol posto, como também em qualquer outra ocupação que se não dá por tarefa." (³)
A citação precedente nos dá uma ideia nítida do que era a condição de um escravo - e de uma escrava - na lavoura canavieira. Não chega a ser surpreendente, pois, que alguns autores entendam que, na média, a expectativa de vida dos escravos, a partir do momento em que chegavam ao engenho, não ultrapassava os dez anos, tal o grau de exaustão a que eram submetidos ("desde o sol nascido até o sol posto..."). Mas, para os senhores, isso não era um grande problema, já que o tráfico de africanos, nesse tempo, encarregava-se rapidamente da substituição da "peça", como então se dizia. Os lucros do açúcar compensavam plenamente a despesa.
(1) Cultura e Opulência do Brasil Por Suas Drogas e Minas. Para ler sobre a verdadeira identidade de André João Antonil, acesse: Antonil e a vida diária em um engenho de açúcar no Brasil Colonial.
(2) Na edição original, de 1711, que foi proibida e confiscada, esse trecho está na página 23.
(3) Também na edição original, p. 44.
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