Restaurar antigas construções constitui-se em parte essencial do que se convencionou chamar de preservação do patrimônio histórico. Não é tarefa fácil, já que demanda, quase sempre, um volume expressivo de recursos, em paralelo à exigência de mão de obra muito qualificada. Sim, não é também uma tarefa fácil porque em um país como o Brasil, no qual há recursos claramente insuficientes destinados à educação e à saúde pública, não chega a surpreender que o patrimônio histórico venha a ser considerado como coisa de importância secundária. Não o é, entretanto, ainda que, por preceito, numa sociedade democrática a população tenha todo o direito a esclarecimentos quanto à utilidade daquilo que se quer conservar. Na última semana, ouvi alguém dizer, em relação a uma igreja do século XIX, que melhor seria colocar tudo aquilo abaixo, já que precisa de cuidados contínuos, é "velha demais" e "um dia desses ainda vai cair na cabeça de um monte de gente". Ora, basta que eventualmente os encarregados da administração pública venham a ter essas mesmas ideias e a bela igrejinha do barroco tardio acabará caindo mesmo, mas por falta do devido cuidado.
Um dos prédios da Casa de Saúde de Amparo, datado de 1876 |
Todavia... Nunca lhe ocorreu, leitor, que o desgaste provocado pela passagem do tempo pode ser muito charmoso, bonito até? Não estou propondo, evidentemente, que velhos edifícios, quase caindo, sejam deixados a despencar, pondo em risco a segurança de quem quer que deles se aproxime. Além disso, como todos sabem, nem tudo o que é velho tem de ser preservado. A não ser em casos excepcionais, quando um determinado conjunto arquitetônico é particularmente expressivo, é mais razoável supor que seja preservada uma amostra significativa, assegurando a memória de um dado período, sem comprometer o uso racional do espaço urbano, de acordo com as novas demandas populacionais e tecnológicas.
A placa informa que o prédio está em vias de restauração |
Como se vê, esse é um assunto que requer decisões inteiramente desapaixonadas, fruto de estrita racionalidade. Acontece que, por vezes, a beleza de certos prédios em ruínas nos dá o que pensar.
Dentro da área do Parque Ecológico de Amparo (S.P.) estão os antigos edifícios da Casa de Saúde, erguidos na segunda metade do século XIX, época na qual desenvolveu-se uma nova concepção de serviços médicos, muito diversa dos antigos conceitos que até então haviam predominado e relacionados, por exemplo, à localização em termos de área urbana ou ao uso do espaço construído. No local, uma placa indica que o conjunto está a caminho de uma restauração. Excelente, mas é inegável que as construções, já tomadas pelo mato, têm o encanto do que poderíamos chamar de "peso do passado", visível a quem quer que seja capaz de refletir sobre o que observa. Afinal, como seria possível capturar (e preservar) a magia dessa árvore que cresceu incrustada na parede da velha edificação?
Quanto tempo terá sido necessário para que essa árvore crescesse na parede? |
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