quinta-feira, 15 de setembro de 2022

A descoberta de jazidas auríferas levou à interiorização do povoamento colonial

Na primeira metade do Século XVII, frei Vicente do Salvador afirmou que colonizadores do Brasil estavam limitados a "andar arranhando ao longo do mar como caranguejos" (¹). Estava certo e estava errado. Certo, se considerarmos que, em virtude de condições de clima e solo, além da proximidade de portos para embarque de mercadorias, a agricultura canavieira e a produção de açúcar se desenvolveram prioritariamente perto do litoral. Mas errado, quando consideramos, por exemplo, a criação de gado no interior nordestino e o povoamento do Planalto Paulista, com a formação de pequenos núcleos urbanos, de onde, para bem e para mal, saíam levas de exploradores do território, mais tarde denominados bandeirantes
Contudo, um novo e poderoso fator de interiorização do povoamento ocorreu a partir de fins do Século XVII. Refiro-me à exploração de jazidas auríferas. Vejam leitores, o que disse o barão de Eschwege (²) sobre essa questão:
"A abundância de ouro, que foi sendo descoberto, provocou um verdadeiro deslocamento da população litorânea para o interior.
Já não eram só os paulistas; também os habitantes do Rio de Janeiro - que, com inenarráveis sacrifícios, haviam aberto uma estrada através de matas cerradas - e os da Bahia, que haviam encontrado passagem ao longo dos sertões incultos, demandavam as regiões do ouro.
A população cresceu rapidamente. [...]"
(³)

Vila Rica, um dos grandes centros mineradores no Brasil Colonial (⁴)

Não pode restar dúvida de que, temporariamente, houve um decréscimo na população de algumas áreas, devido aos contingentes que se deslocavam para as minas. Mas, por outro lado, deve-se considerar que, de fora do Brasil, muita gente afluiu à busca do ouro, e não eram apenas portugueses, apesar das restrições impostas à entrada de estrangeiros. Escravizados jovens e saudáveis, de preferência com conhecimentos de mineração, eram também levados aos núcleos urbanos que se formavam com incrível rapidez, sempre que uma região aurífera promissora era descoberta. Desses elementos nasceu uma nova sociedade, urbana e interiorizada, que, por essas características, desenvolveu cultura própria, diferente de tudo o que, até então, existira no Brasil.

(1) A data provável de conclusão da História do Brasil escrita por frei Vicente do Salvador é 1627.
(2) Esteve no Brasil durante o governo joanino, que o convidara a percorrer as minas, para procurar um modo de torná-las novamente produtivas.
(3) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 44.
(4) Cf. DENIS, Ferdinand. Brésil. Paris: Firmin Didot Frères, 1837. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.