quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Se você fosse um viking

Vindos do Norte, os vikings varreram as cidades litorâneas da Europa entre c. 790 d.C. e c. 1066 (¹), incendiando, pilhando e espalhando o pânico entre a população. Já se nota, pela data, que os ataques começaram quando Carlos Magno (²) ainda vivia, mas ganharam intensidade depois de sua morte, em decorrência do enfraquecimento e fragmentação do império que governara (³).
Existe alguma controvérsia quanto à causa da expansão viking, mas poucos duvidam de que, entre elas, pode ser mencionada a insuficiência de terras para cultivo, aliada aos poucos meses favoráveis à agricultura em sua Escandinávia natal. Isto, porém, não explica por que as viagens seguidas de invasões não ocorreram antes.
Lâmina de um machado viking (⁴)
Tente imaginar, leitor, como seria sua vida se você fosse um viking. Para ajudar, vão aqui algumas informações:
  • Você provavelmente moraria em uma casa muito simples, que, para evitar a perda de calor, não teria janelas, mas apenas algumas frestas para a entrada e saída do ar, além de uma porta;
  • A lavoura e a criação de gado ocupariam grande parte do tempo ao ar livre durante os meses em que o frio não fosse muito intenso;
  • Você passaria os meses menos frios ocupado, também, em estocar alimentos e lenha para o inverno;
  • Devido às condições restritivas de prática da agricultura, a caça seria um recurso importante para suplementar a alimentação;
  • O alimento seria cozido em um fogão cavado no chão de sua casa, de modo que haveria muita fumaça no ambiente;
  • As condições climáticas na Escandinávia favoreceriam o uso de roupas quentes, com predomínio do uso de peles e lã, embora o emprego de linho, como complemento ao vestuário, não fosse desconhecido;
  • Para que roupas de lã fossem confeccionadas, seria preciso que alguém na casa (você ou outra pessoa de sua família) fosse hábil no uso do tear (será útil, portanto, esclarecer que, entre os vikings, tecer e costurar eram tarefas reservadas às mulheres);
  • Tudo aquilo de que precisasse e não fosse produzido por sua própria família poderia vir de um mercado ou feira em alguma das cidades vikings, nas quais artesãos ofereciam seus serviços e produtos aos interessados (⁵);
  • O ataque a povoações ao sul da Escandinávia seria uma fonte importante de riquezas e, se você fosse um viking do sexo masculino, teria muito interesse em participar de uma dessas expedições;
  • Se, no entanto, você fosse uma mulher, deveria, durante a ausência dos envolvidos nas expedições de invasão e comércio, cuidar não apenas dos afazeres rotineiros de manutenção da casa e da família, como também comandar as tarefas locais que, de hábito, eram feitas pelos homens (⁶).
Então, que lhe parece, leitor? Era divertido ser um viking? A realidade não soa exatamente como na fantasias populares, concorda?

(1) A derrota dos vikings na batalha de Stamford Bridge, em 25 de setembro de 1066, é tradicionalmente apontada como um marco na decadência de sua capacidade bélica; entretanto, a aceitação dessa data não descarta a ocorrência de ataques menores posteriormente.
(2) 742 - 814.
(3) O sucessor de Carlos Magno foi Luís, conhecido como "o Piedoso", cujos filhos, estando este ainda vivo, iniciaram uma disputa acirrada pelo poder. Mais tarde, a assinatura do Tratado de Verdun (843 d.C.) sacramentou a fragmentação do império que Carlos Magno tentara construir.
(4) ANDERSON, Joseph. Scotland in Pagan Times. Edinburgh: David Douglas, 1883, p. 97. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(5) Apesar de frequentemente associados a atitudes truculentas, os vikings eram ótimos comerciantes e tinham rotas para troca de mercadorias que alcançavam longas distâncias, indo muito além das terras que originalmente habitavam.
(6) Separadas das mulheres vikings por uma distância enorme tanto no tempo quanto no espaço, mulheres paulistas dos tempos coloniais viviam situação parecida quando os homens se juntavam às bandeiras que iam ao sertão para capturar indígenas e procurar metais preciosos. 


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