terça-feira, 6 de novembro de 2018

Providências do padre Antônio Vieira para agilizar a catequese de indígenas no Maranhão

Vieira é conhecido dos jovens estudantes pelas aulas de Literatura, nas quais se estudam seus famosos Sermões. Mas foi também um missionário dedicado e, a seu modo, um protetor dos indígenas, de acordo com aquilo que, em seu tempo, se pensava ser o melhor para eles.
Reconhecendo que havia poucos missionários para a aventura da catequese em um território gigantesco, o padre Antônio Vieira adotou algumas medidas de ordem prática, cujo propósito era agilizar a doutrinação nas aldeias formadas por índios já catequizados e/ou catecúmenos. A ideia era simples: contar com a ajuda dos próprios ameríndios para a instrução religiosa, sempre que não fosse possível ter a presença de um jesuíta. Então, de acordo com a História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará (¹), escrita pelo padre José de Moraes:
  • Todas as aldeias indígenas controladas pela Companhia de Jesus deviam ter livros para registro de batismos, casamentos e óbitos;
  • Em cada aldeia deveriam ser selecionados dois rapazes, que receberiam instrução que os capacitasse a, diariamente, dirigir orações e doutrina na igreja;
  • Alguns índios deveriam receber preparo para que, na ausência dos padres, pudessem batizar catecúmenos e prestar assistência aos que estivessem para morrer.
Observando, de passagem, o quanto Vieira se mostrava pragmático na adoção dessas medidas, cumpre explicar que, na primeira delas, atendendo a uma determinação do Concílio de Trento, o missionário pretendia assegurar que ninguém, em cada aldeia, deixasse, a seu tempo, de receber o batismo, além de, com o registro dos casamentos, impedir a poligamia e as uniões consanguíneas vetadas pela Igreja - em tal contexto, tarefas bastante difíceis. 
Digam-me, leitores, estão curiosos para saber qual foi o resultado dessa estratégia? Nas palavras do padre José de Moraes, "exercitaram eles [os missionários] a ordem com tão grande zelo e atividade, que dentro em breve tempo não faltaram mestres para os homens e já sobejavam mestras para as mulheres, que de ordinário são as mais hábeis em aprender, e de melhor retentiva para ensinar" (²). Ao que parece, o plano de Vieira funcionou.

(1) A primeira edição foi publicada em 1759, mesmo ano em que o autor foi deportado para o Reino, no contexto das restrições e posterior extinção da Companhia de Jesus. O tom bastante encomiástico em alguns trechos da obra pode, assim, ser facilmente explicado.
(2) MORAES, José de S.J. História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Typographia do Commercio, 1860, pp. 391 e 392.

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