quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Feriados e mais feriados

Os feriados, na Roma Imperial, chegaram a ser quase tão numerosos quanto os dias de trabalho


Um pequeno desafio para vocês, leitores: encontrem alguém que não goste de feriados. Talvez haja neste planeta algumas exceções, é verdade, mas a regra entre os mortais é que os feriados sejam da maior estimação.
De vez em quando, alguém diz que há feriados em excesso, que deveríamos ter mais dias de trabalho, que ter menos feriados seria bom para a economia do País - por certo quem atua no setor de turismo não há de concordar com essa ideia. Basta comparar o calendário brasileiro com os que vigoram em outros países para ver que não há tantos feriados assim.
Já na Roma Antiga o número de feriados ao longo do ano veio a ser problema sério. É que, com tantos deuses, e cada deus ou deusa (ou seus respectivos devotos) reclamando um feriado, tornou-se difícil haver uma sequência razoável de dias "comuns", ou seja, de trabalho. O problema era tão grave que virou debate no Senado em 59 d.C. (ou 812 da fundação de Roma, se preferirem). De acordo com Tácito (¹), Caio Cássio, defendendo a limitação das festividades, argumentou ser necessário "dividir os dias sagrados e de trabalho, de tal maneira que não se impedissem as celebrações dos deuses e nem as ocupações dos homens". Em sua lógica, se fosse o caso de homenagear os deuses por todos os benefícios para com os humanos, não haveria no calendário dias suficientes - algumas festas, portanto, bastavam (²).
Roma, porém, passava por tempos turbulentos, tendo o instável Nero à frente do governo. Desagradá-lo era perigoso, e não é surpresa que houvesse uma multidão de aduladores, inclusive entre a elite senatorial. O debate sobre os feriados fora desencadeado justamente em razão das seguidas festas para dedicar estátuas e outras homenagens ao imperador, e dar graças aos deuses que favoreciam a cidade com tão ilustre mandatário - não seriam muitos, portanto, os que ousariam dizer: Romanos, tratem de ir trabalhar!...

(1) Annales, Livro XIII; o trecho citado é tradução de Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias
(2) Os membros da elite romana que pretendiam seguir carreira política aprendiam, desde muito cedo, a arte da argumentação. 


Veja também:

2 comentários:

  1. Confesso que um feriado, de vez em quando, sabe muito bem. :)

    Um frutuoso 2017, Marta!

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    Respostas
    1. Ah, certamente, mas não com a frequência da Roma Imperial :-)))

      Que você tenha também um ótimo 2017, com muitos posts novos em seu blog, para alegria dos leitores.

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