Se há alguma coisa que pode ser classificada como definidora de uma dada cultura é, sem dúvida, a comida. Sim, vestuário, estrutura familiar, organização social e do trabalho, tudo isso também faz parte, mas os costumes quanto à alimentação são, por vezes, tão particulares a um determinado grupo humano que, aquilo que para uns pode ser uma delícia, um verdadeiro manjar dos deuses, para outros não passa de coisa nojenta. O primeiro contato dos índios do Brasil com a alimentação dos portugueses da esquadra de Pedro Álvares Cabral ilustra perfeitamente esse ponto.
Conta-nos o escrivão Pero Vaz de Caminha que, tentando mostrar amizade para com índios que foram à embarcação do comandante, os portugueses ofereceram-lhes comida:
"Deram-lhes ali de comer pão e pescado cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada, e alguma coisa, se a provavam, lançavam-na logo fora. Trouxeram-lhes vinho por uma taça, puseram assim a boca tão mal e não gostaram dele nada, nem o quiseram mais."
Ora, aqui ficamos nós imaginando a cena: os portugueses tentando oferecer aos seus visitantes o melhor que tinham, e estes sequer suportando provar tal comida. Sim, é verdade que depois de várias semanas no mar, o alimento dos lusos talvez não estivesse lá muito bem conservado, mas que dizer do vinho? É curiosa a reação dos nativos do Brasil, que, aliás, eram grandes apreciadores de bebidas fermentadas, que fabricavam segundo um número bastante significativo de técnicas distintas (*).
Nos contatos subsequentes, ainda com os homens da esquadra de Cabral, jovens índios acabariam experimentando, com mais gosto, a comida dos navegantes.
Conta ainda a carta que os portugueses provaram comida dos índios, que é descrita como inhame - talvez fosse mandioca, ou aipim.
E, como comida é, ao menos em parte, uma questão de hábito, logo estavam os índios a acostumar-se com a alimentação dos portugueses, conforme registrou Caminha:
"Comiam conosco do que lhes dávamos e bebiam alguns deles vinho, e outros não podiam beber, mas parece-me que se lho avezarem que o beberão de boa vontade."
(*) Veja, sobre isso, a postagem: "Cajus e cajueiros - Parte 4: O "vinho" de caju dos indígenas"
(*) Veja, sobre isso, a postagem: "Cajus e cajueiros - Parte 4: O "vinho" de caju dos indígenas"
Veja também:
Gosto de História, vivo História! Muito interessante, a matéria aí publicada. Já fiz um bom passeio, lendo várias "páginas", até sobre Cadeirinha de Arruar, em 3 partes...Muito bom!
ResponderExcluirHei de voltar, Marta.
Um abraço!
Olá, Lúcia, fico MUITO feliz por você ter gostado. Seja bem-vinda ao Blog e, por favor, sinta-se livre para participar com seus palpites, ideias e opiniões. É ótimo encontrar alguém que ame a História!
Excluirnossa realmente bom em saber os primeiros contados dos portugueses com os indios
ResponderExcluirolha desculpa mandar um comentario 7 anos depois eu ainda tinha 5 anos quando esse blog começou
Olá, todos os comentários são bem-vindos, do primeiro post, escrito há mais de dez anos, ao mais recente (de hoje, 13 de agosto de 2020). Obrigada por ler e comentar!
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