domingo, 17 de março de 2013

A vantagem de um cargo público nos primeiros tempos da colonização

É impressionante a quantidade de pessoas que, no Brasil de hoje, sonha em "passar em um concurso público", ou seja, obter aprovação em exame para a contratação de funcionários para um setor qualquer da administração pública. Alega-se que, ocupando um desses cargos, o trabalhador tem emprego garantido, bom salário e uma série de outros benefícios, dentre eles a possibilidade de uma carreira. No entanto, esse amor aos cargos públicos não é absolutamente uma novidade em terras brasílicas...
Ao estabelecer a Capitania de São Vicente, Martim Afonso de Sousa, seu primeiro donatário, determinou um sistema pelo qual mercadores portugueses compravam as mercadorias dos colonizadores e as remetiam ao Reino. Acontece que, segundo Frei Gaspar da Madre de Deus, quase não havia meio circulante na Capitania nesse tempo, de modo que o açúcar fazia-se moeda corrente:
"Esses contratadores importavam as drogas da Europa que se haviam de vender aos portugueses, e eles aos índios; o produto exportavam para o Reino em gêneros da terra, principalmente em açúcar, o qual era a moeda corrente desse tempo." (¹)
Naturalmente era difícil aos reinóis recém-chegados habituar-se à ideia de fazer comércio sem dinheiro como intermediário, de modo que aí nasceu a paixão por exercer um cargo público, conforme explica o mesmo Frei Gaspar da Madre de Deus:
"O dinheiro vinha do Reino, e era pouco, quase todo ia parar nas mãos dos ministros, párocos e oficiais de justiça, e por esta razão eram os ofícios tão estimados, que muitos fidalgos e pessoas mais nobres da terra serviam de escrivães e tabeliães." (²)
Deve-se observar, porém, que naqueles dias não havia concursos. Os "ofícios", como então se dizia, eram, em sua maioria (havia exceções), geralmente providos por nomeação segundo livre escolha da autoridade competente, seguindo-se desse sistema todas as consequências que meus leitores bem podem imaginar.

(1) MADRE DE DEUS, Frei Gaspar da. Memórias para a História da Capitania de São Vicente, Hoje Chamada de São Paulo, do Estado do Brasil. Lisboa: Typografia da Academia, 1797, p. 66.
(2) Ibid.


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