quarta-feira, 27 de março de 2013

Arte sacra em argila

Os danos ao patrimônio histórico são, muitas vezes, anunciados na imprensa até com estardalhaço, e isso por uma razão bastante simples: são visíveis. Já no que se refere à preservação do chamado patrimônio cultural imaterial (que tem a ver com a cultura, a tradição, o jeito de fazer as coisas quotidianamente ou as celebrações de um povo ou mesmo uma comunidade, a música tradicional de um lugar, e assim por diante) a situação é um tanto mais complicada. Saberes se perdem silenciosamente e, não raro, aparece alguém para dizer: "Como é mesmo que se fazia aquela receita de...?" Ou ainda: "Minha avó contava que as bonecas eram feitas..." O caso é que, por descuido, tanta coisa interessante acaba por desaparecer da memória coletiva. E haja depois arqueologia (material ou imaterial!) que dê jeito no problema...
Pois bem, vi recentemente um caso interessante de esforço no sentido de preservar o saber relacionado a uma tradição bem típica de algumas regiões do Brasil, a confecção de objetos de argila. Muitos povos indígenas sempre foram bons nisso, e o contato com colonizadores, que precisavam desesperadamente de artefatos de uso diário, tais como jarros e panelas, levou à constituição de técnicas algo sincréticas que acabaram tendo uso para além do fornecimento de objetos de cozinha. Artesanato de caráter religioso, peças decorativas, até brinquedos foram feitos de argila. Em alguns lugares, ainda se faz, ou se ensina a fazer. Foi o que vi na Escola de Artes Sacras em Pirapora do Bom Jesus (SP), na qual, aliás, o ensino não é restrito à  elaboração de peças de acordo com a tradição religiosa local: a exposição de trabalhos da Escola tem obras relacionadas aos mais variados temas, conforme me explicou o professor Joel, que lá atua. As fotos que ilustram esta postagem são um ótimo exemplo tanto da qualidade do trabalho quanto do cuidado em preservar um saber que de outro modo, face ao estilo de vida típico do nosso tempo, seria um candidato ao desaparecimento.



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