quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Móveis escolares antigos


Carteira escolar para dois alunos (¹)

Alguém aí estudou em uma instituição de ensino que ainda tinha móveis escolares como os que se veem na foto acima? Pesadões, de madeira e ferro, com pés que podiam ser pregados no chão, possivelmente para evitar que a criançada os arrastasse pela sala de aula, fazendo inevitável algazarra, a cada início ou fim de um dia de aulas. Ao centro de cada mesa, um lugar onde devia encaixar-se perfeitamente um tinteiro (apenas deveria, porque os tinteiros pareciam construídos para serem entornados sobre as lições); sob a mesa, um lugar onde se deixavam livros e cadernos que não estavam sendo usados. Havia móveis para uso de um só aluno, e outros que acomodavam dois escolares.
Anúncio de móveis escolares, datado do ano de 1916 (²)
Afinal, nada muito diferente, em termos funcionais, das modernas carteiras que podem ser vistas nas escolas bem equipadas.
Ah, mas os antigos móveis de madeira tinham um charme à parte. Eram tão resistentes que foram usados por sucessivas gerações de pequenos estudantes, e é aí que reside toda a graça: malgrado todas as proibições e ameaças (cumpridas ou não) dos mais severos castigos, quase todo mundo escrevia na madeira, talvez para espantar o tédio das lições monótonas. Quem é que poderia gostar da permanência em uma sala fechada, quando lá fora brilhava o sol, convidando para coisas mais próprias da infância que cópias, tabuadas ou ditados?
Lembremo-nos, esses móveis foram típicos de uma época em que novidades pedagógicas nem sempre eram bem-vindas, embora houvesse um colégio ou outro disposto a inovar. A maioria, porém, estava longe desse perfil.
Mas, como eu disse acima, a madeira era perfeita para quem queria escrever, fosse com uma pena de metal, a ponta seca de um compasso ou, mais recentemente, com uma esferográfica mesmo, e essa sutil distração acabou produzindo, nos velhos móveis, um registro quase mágico para meninos e meninas que se iniciavam nos estudos. Veem-se, nos móveis que sobreviveram, as garatujas de recém-alfabetizados, talvez com uma ponta de sabor de transgressão (lembrem-se, leitores, era proibido escrever nas carteiras!), a glória de perpetuar o próprio nome, quem sabe uma provocação dirigida a um colega, "colas" e mais "colas"... E quem vinha no ano seguinte, encontrando todo esse patrimônio à disposição, julgava ser seu dever aumentar a herança das futuras turmas, que viessem a usar os mesmos móveis, na mesma sala. Desse modo, camadas e camadas de escrevinhações foram sobrepostas, e quem hoje tentar "escavar" e classificar essas divertidas inscrições nos móveis sobreviventes terá, pela frente, tarefa de alguma dificuldade.
É quase desnecessário lembrar que os atuais móveis escolares, sendo mais anatômicos e até mais higiênicos, não permitem, por outro lado, em razão dos materiais de que são confeccionados e da menor durabilidade, que um tal patrimônio de letras e rabiscos venha a formar-se. Eis aí um lado negativo da modernização.
Bem, espero que leitores mais emotivos não cheguem ao ponto de derramar lágrimas de saudade de seus velhos bancos escolares. Fica, no entanto, o convite, para quem quiser fazer um comentário, contando memórias de suas aventuras estudantis.

(1) A carteira escolar da foto pertence ao acervo do Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião - MG.
(2) A CIGARRA, 9 de novembro de 1916.


Veja também:

14 comentários:

  1. A escola é parte da estrutura de uma comunidade. É na escola que se inicia o processo de socialização no diálogo e nas necessidades individuais e coletivas. Também podemos observar que apesar das escolas estaduais estarem compostas e projetadas como parte de uma estrutura pré-definida, cada uma tem característica próprias e autenticidade de mobiliários e conjuntos mantidos por muitos anos,mostrando a historia da instituição, suas especificidades em relação ao local onde foi construida e a sua história formada pelas pessoas que lá convivem, bem como as que deixaram registros do passado localizados diante de fotografias e documentos.

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    1. De fato há escolas assim. Infelizmente, a realidade de muitas delas está longe disso.

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  2. eu sei que estudei no primário em Cabo Frio Rio de Janeiro as carteiras eram assim ferro e madeira assento duplo

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    1. Em algumas escolas as carteiras eram pregadas no chão, para que os alunos não pudessem arrastá-las...

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  3. Sim, estudei no Ptronato São José em Aracati - Ceará e as carteiras eram duplas.
    No Instituto do Museu Jaguaribano em Aracati, há uma sala repleta deste tipo de carteiras.
    É bom visitar.

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    1. Olá, Socorro Matos, então você também estudou em um colégio que tinha carteiras assim?
      Obrigada pela dica quanto ao Museu. Os leitores que estiverem por perto poderão visitar. Eu estou muito longe... 😁

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  4. Sentei por anos, e sentia um orgulho imenso. Morava na cidade de SP em Itaquaquecetuba. Obama por me fazer voltar a infância.

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    1. Olá, Marli,
      Obrigada por visitar o blog. Salas de aula assim despertam saudades em muita gente, não é?

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  5. Também já estudei em uma escola particular Reino do Saber em primário em Ladário-Ms! Saudades dessa época!

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    1. Olá, Natália,
      Se você tem saudades é porque a escola era boa, não é mesmo?

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    1. Obrigada, Helloiza! Um abraço a você e a todos os alunos do colégio.
      Tenha um ótimo final de semana!

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  7. Oi alguém me ajuda .. tenho uma carteira antiga e com tinteiro .
    Acento único. Produzida por (brasileira fornecedora de materiais escolares LTDA) "brasfor" .
    No pé de ferro da cadeira está escrito Luiz mellone. C "ALGUMA COISA " ESTA ILEGIVEL.
    São Paulo.
    Achei uma em um leilão com as mesma característica mais não tem tinteiro e está com a data 1940.. se alguém souber um site onde posso pesquisar agradeço. Desde já agradeço

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    1. Amigos leitores, se alguém tiver informações sobre esse antigo fabricante de carteiras escolares, por favor, ajude esta pessoa que está pesquisando o assunto, sim?

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