Há mais ou menos um ano, já tratei neste blog da questão dos "pichadores" que, aqui e ali, encarregam-se de destruir o patrimônio histórico. O problema é tanto mais grave quanto há, por vezes, uma tendência em considerar seus atos como meras travessuras. Mas não são. O caso que veremos hoje exemplifica isso claramente.
Porto Feliz é o que se poderia chamar de cidade histórica de primeira linha. De seu porto de Araraitaguaba, às margens do rio Tietê, partiam habitualmente as monções (*) rumo ao interior do Brasil, ainda praticamente desconhecido e, por isso mesmo, misterioso, desde fins do século XVII, por todo o XVIII e início do XIX. Pois bem, das monções e bandeiras voltaremos a tratar outras vezes. O que quero mostrar a você, leitor, é a "intervenção" de alguns pichadores no belíssimo paredão de rocha que margeia o antigo ponto de partida das monções. A origem geológica do local é muito discutida, e não é propósito deste blog entrar no mérito da questão, bastando apenas dizer que, para muitos, a origem é glacial, enquanto outros entendem que há evidentes marcas de deslocamento de água na área, o que poderia indicar que, em algum tempo no passado, o rio teria sido muito maior, chegando sua margem até aquele ponto. Seja lá como for, é lugar de grande beleza natural e evidente significado histórico. Qualquer ato destrutivo, aqui, raia a sacrilégio. Então, que o leitor considere por si mesmo as imagens abaixo:
Observou as "pinturas rupestres"? Não, leitor, elas não vêm de tempos remotos, quando o paredão foi formado, nem foram feitas pelos nativos que habitavam a região antes da chegada dos portugueses. Posso assegurar que são obra de hominídeos bem mais recentes...
Remover pichações em paredes comuns já acarreta aborrecimentos. Nesse caso, no entanto, significaria ter que, provavelmente, desgastar a rocha natural, alterando para sempre o que a natureza esculpiu. O dano é, portanto, muito maior. É revoltante imaginar que tenha sido perpetrado de forma irresponsável, possivelmente sem qualquer sentimento de culpa.
(*) Monções eram expedições predominantemente fluviais que iam ao interior do Brasil à procura de jazidas de metais preciosos.
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