domingo, 23 de janeiro de 2011

Nós e eles (Parte 4) - Animais aprisionados em zoológicos e parques

Para fazer as fotos dessa pequena série, julguei que seria proveitoso comparecer a alguns zoológicos, imaginando que encontraria diversão, além de fazer as já mencionadas fotografias. Entretanto, leitor, devo admitir que essa experiência me causou um certo aborrecimento. Vamos ao caso.
Inegavelmente há muitos zoológicos que oferecem aos animais condições de vida bastante razoáveis, ainda que não seja a mesma coisa que viver no habitat original. São, alguns deles, centros de pesquisa e de preservação de espécies ameaçadas de extinção. Nessas condições, pode-se assumir que são úteis, educativos e até necessários. O que me parece difícil é aceitar a existência de "zoológicos" ou "parques ecológicos", geralmente em cidades menores, nos quais os animais vivem em condições terríveis, neurotizados pelo espaço exíguo de suas jaulas e pela total falta de atividade estimulante, sem falar na presença de pessoas absolutamente desinformadas, que gritam, assobiam, jogam objetos e oferecem comida inadequada e em horário impróprio. Como supor que felinos selvagens, nativos do Brasil, habituados às vastas extensões florestadas, podem viver felizes em cubículos que, com boa vontade, terão talvez uns trinta metros quadrados? Que dizer dos animais típicos das savanas africanas, cujo estilo de vida passa pela existência em bandos, e que são obrigados a completo isolamento, sem sequer um único companheiro? Haverá quem argumente que muitos desses espécimes de zoológicos são exemplares nascidos em cativeiro e, portanto, "habituados" a viver em jaulas. Pois bem, vejamos se isso é assim mesmo.
Imagine, leitor, que alguém lhe fizesse a seguinte proposta: Você não precisa mais trabalhar, pode dormir quanto quiser e sua comida favorita será trazida pontualmente até você, a cada refeição. Porém, fica entendido que você deverá viver isolado em um local que terá uns trinta ou quarenta metros quadrados, com uma ampla vidraça à frente, para que aqueles que assim o desejarem possam observar tudo o que você faz. Como um bônus, assegura-se que você estará livre de moléstias infectocontagiosas, garantindo-se também completa assistência médica quando isso se fizer necessário. Como contrapartida, espera-se que você acene alegremente para crianças e adultos que vierem vê-lo, além de estar condicionado a reproduzir-se regularmente com um(a) parceiro(a) que lhe será destinado(a), sem qualquer escolha de sua parte, para que novos espécimes sejam gerados e, uma vez nascidos em cativeiro e sem qualquer contato com a liberdade, sejam encaminhados a outros parques para entretenimento da população. Que lhe parece? Não é uma proposta tentadora?!
Se consideramos tal ideia um absurdo, devemos, ao menos por coerência, ter compaixão desses pobres seres vivos que passam sua triste vidinha a percorrer, centenas de vezes por dia, a mísera extensão das grades das jaulas. O tema sugere reflexão, mas também aponta para uma necessidade urgente de transformação no modelo que até aqui tem sido aceito para zoológicos e outros parques em que animais são expostos.

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