"Ninguém ignora que nas batalhas como a de hoje costuma roncar o pau. Esta arma, força é dizê-lo, anda um tanto desusada, mas é tão útil, tão sugestiva, que dificilmente será abolida neste final do século e nos primeiros anos do outro. Não é épica nem mística, está longe de competir com a lança de Aquiles, ou com a espada do arcanjo. Mas a arma é como o estilo, a melhor é a que se adapta ao assunto. Que viria fazer a lança de Aquiles entre um capanga sem letras e um leitor sem convicção? Menos, muito menos que o vulgar cacete. A pena, “o bico de pena”, segundo a expressão clássica, traz vantagens relativas, não tira sangue de ninguém; não faz vítimas, faz atas, faz pleitos. O vencido perde o lugar, mas não perde as costelas. É preciso forte vocação política para preferir o contrário."Machado de Assis, A Semana, 15 de julho de 1894
Hoje, leitor, teremos poucas palavras e, talvez, algum riso. É que vamos visitar desenhos humorísticos de publicações que, durante a República Velha, satirizavam as eleições, donde se conclui que, em relação aos pleitos do Império, a mudança de Regime não significou nenhuma grande transformação.
1. Neste cartoon da revista paulistana A Lua, de março de 1910, a personagem Zé Pagante (é possível que hoje disséssemos "Zé Contribuinte") protesta:
"Sucedem-se os quatriênios, mas o meu minguante não muda."
Entenda-se: as eleições, em última análise, eram mais do interesse dos poderosos, enquanto que, mandato após mandato, a vida dos pobres continuava a mesma.
2. Outro de A Lua, também de março de 1910:
"Coronel Piedade: - Eu não tinha avisado? Agora, quem não cavou um posto... cavasse... Fui o Moisés da Nova Cruzada. Vocês não me ouviram..."
Tem-se aqui uma referência às eleições de 1910, em que concorreram à Presidência Rui Barbosa e o Marechal Hermes da Fonseca (este último acabou vencendo). Foi, desde o início da República até aquela data, a eleição mais disputada. Deve-se observar que, no desenho, o Coronel Piedade tem as características fisionômicas de Hermes da Fonseca. Quanto à questão de "cavar um posto", sabemos bem o que é...
3. Finalmente, este interessante desenho que apareceu na revista carioca Fon-Fon, em 16 de julho de 1910:
A imagem é a de um comício político (que, na época, costumava atrair muito público), no qual o candidato a deputado, em um discurso inflamado, ressalta:
"- Concidadãos. Os interesses da pátria terão em mim um defensor intransigente. Eleito deputado, honrado com a distinção do voto dos meus correligionários, o meu primeiro cuidado, cidadãos, o meu primeiro cuidado será... partir imediatamente para a Europa."
Cabem duas observações:
a) A ideia, neste caso, era alfinetar os parlamentares brasileiros que, em meio às apurações dos votos das eleições de 1910, tiraram férias e foram, muitos deles, para a Europa;
b) Não é novidade o hábito de fazer promessas de campanha - o que o cartoon ridiculariza é a expectativa de grandes promessas, frustrada pelo "partir imediatamente para a Europa".
Na próxima postagem teremos mais alguns cartoons sobre as eleições na República Velha, quando, provavelmente, concluiremos este assunto!
Veja também:
Veja também:
Eu gostei muito das charqes. gostaria de saber de onde vc tirou elas, se de biblioteca ou instituição.
ResponderExcluirOlá, Joana. Obrigada por sua visita a "História & Outras Histórias". Gostou dos cartuns? Eles foram publicados em revistas bem antigas. No caso desta postagem, são de "A Lua" e "Fon-Fon". Coleciono alguma coisa desse tipo :-D, mas você poderá encontrar muito material interessante no Arquivo Público do Estado de São Paulo: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/index2.php
ResponderExcluirVisite o blog mais vezes!