sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Independência do Brasil 2 - O filho escreve ao pai (para todo mundo ler)

Como o príncipe D. Pedro contou a D. João VI que havia forçado o retorno da Divisão Auxiliadora a Lisboa


(Esta postagem é continuação de  A Independência do Brasil 1 - Carta de filho para pai)

Em 14 de março de 1822 D. Pedro volta a escrever a seu pai, dando conta de que a questão da permanência de tropas portuguesas no Brasil (obstada por ele próprio, como Príncipe Regente), fora resolvida de modo a garantir que não houvesse ruptura com Lisboa. O caso é que as tropas haviam sido mandadas à América por ordem das Cortes, justamente pela percepção de que o momento era favorável a uma tentativa de independência. E, se compararmos o tom da carta de 9 de janeiro com o desta, datada 14 de março, verificaremos na última indícios de irritação, distintamente da postura conciliatória que é vista na primeira. Diz o próprio D. Pedro:
"Meu Pai, e Meu Senhor. Desde que a Divisão Auxiliadora saiu, tudo ficou tranquilo, seguro, e perfeitamente aderente a Portugal; mas sempre conservando em si um grande rancor a essas Cortes, que tanto têm, segundo parece, buscado aterrar o Brasil, arrasar Portugal, e entregar a Nação à Providência.
[...] Se desembarcasse a tropa, imediatamente o Brasil se desunia de Portugal, e a independência me faria aparecer bem contra a minha vontade por ver a separação; mas sem embargo disso, contente por salvar aquela parte da Nação a mim confiada, e que está com todas as mais forças trabalhando em utilidade da Nação, honra e glória de quem a libertou pela elevação do Brasil a reino, donde nunca descerá.
A obediência dos comandantes fez com que os laços que uniam o Brasil a Portugal, que eram de fio de retrós podre, se reforçassem com amor cordial à Mãe-Pátria, que tão ingrata tem sido a um filho de quem ela tem tirado as riquezas que possuiu."
E, acrescenta, deixando claro estar ciente de que toda a sua correspondência era devidamente vasculhada pelos deputados das Cortes, sem perder a oportunidade de expressar seu desagrado diante das "mudanças" que ocorriam em relação à monarquia reinante:
"Sempre direi nesta o seguinte, porque conto que o original será apresentado ao Soberano Congresso, que honrem as Cortes ao Rei se quiserem ser honradas, e estimadas pela Nação, que lhes deu o Poder Legislativo somente."
D. Pedro tinha toda razão, tanto assim que encontramos esta correspondência publicada, no exato sentido do termo, ou seja, à disposição de quem quisesse lê-la, no jornal Correio do Porto. O detalhe saboroso fica por conta da data da publicação: escrita, como já mencionei, em 14 de março, foi publicada na terça-feira, 11 de junho de 1822, ou seja, cerca de três meses depois, o que nos dá uma boa ideia da velocidade de propagação das notícias naquela época.


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