domingo, 10 de julho de 2011

Os esportes no Brasil do Século XIX e início do Século XX - Parte 5

"O voltarete, o dominó e o whist são remédios aprovados. O whist tem até a rara vantagem de acostumar ao silêncio, que é a forma mais acentuada da circunspecção. Não digo o mesmo da natação, da equitação e da ginástica, embora elas façam repousar o cérebro; mas por isso mesmo que o fazem repousar, restituem-lhe as forças e a atividade perdidas. O bilhar é excelente."
                                                                            Machado de Assis, Teoria do Medalhão, 1882

Atletas do Club Internacional de Regatas 
(Santos - SP) (¹)
No início desta série mencionei o fato de que a questão da prática de esportes suscitava uma certa polêmica em fins do século XIX e início do século XX, e o exemplo citado (sobre as regatas) na postagem anterior é bem ilustrativo da posição de quem se opunha ao dispêndio de tempo em competições.
É bom lembrar que esse debate estava inserido no panorama mais amplo da formação de uma identidade nacional e da instrução para a cidadania, incluindo-se aí a questão da obrigatoriedade universal ao serviço militar. Nossa jovem República via sua intelectualidade oscilar entre os que, a exemplo dos antigos gregos, criam que o esporte fazia bons cidadãos e bons soldados, e aqueles que julgavam tudo isso resultado de influência estrangeira, que impedia o surgimento de uma mentalidade autenticamente nacional.
O escritor Coelho Neto, nos primeiros anos do século XX, foi um dos grandes defensores das atividades esportivas como instrumento para educação dos jovens. Dou-lhe a palavra, para que meus leitores conheçam, por si mesmos, quais eram, à época, os argumentos desse partidário dos esportes:
Grupo de tenistas, revista A Cigarra
edição de 25 de maio de 1914
"Felizmente parece que a mocidade já se vai insurgindo contra o regime desmoralizador. Coalha-se o mar de embarcações esguias que disputam a carreira na arena verde e móbil; corpos arrojam-se ao encontro da vaga e lá vão por ela às braçadas rijas, ora levantados nas cristas espumantes, ora desaparecendo nos sulcos; as bicicletas afrontam os andurriais, trepam às serras, descem aos vales, atravessam florestas em viagens longas, de Estado a Estado; a pela elástica parte como uma bala da cesta dos fundibulários ; cruzam-se floretes e sabres em punhos de esgrimistas; turmas flanqueiam as paralelas, correm outras ao lawn-tennis. Ali é um trapézio que oscila, além é um corpo que volteia na barra; mais longe vai o ginete sorvendo o ar dos prados frescos, levando um cavaleiro louro e moço e no campo, sobre a erva rasa, correm os teams, disputando a bola que bate, salta e voa perseguida, indo dum a outro, repelida, em ânsia desensofrida de vitória que dá à face dos lutadores a cor alegre e formosa da saúde. É exercitando-se nesses jogos enérgicos que o homem aprende a vencer na vida. O hoplita dançava a pírrica sob o peso derreante das armas." (²)

(1) A CIGARRA, 1º de dezembro de 1919; pela ordem, Minhoca, Coruja, Sabiá, Xereta e Chops. Está aqui um bom exemplo do hábito bem brasileiro (ainda que não exclusivamente) de dar apelidos aos atletas.
(2) COELHO NETO,  A Bico de Pena (1902-1903).



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4 comentários:

  1. Muito interessante. Além de ser um tema muitas vezes esquecido pela nossa sociedade, que por mais que gira tanto em torno do esporte, não reconhece nem a história deste.

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    1. Olá, J. Julian, você tem toda a razão.
      Obrigada por sua visita ao blog. Tenha um ótimo final de semana!

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  2. Conhecendo um pouco,da história do esporte no Brasil.obrigada

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