"Ainda bem que a ginástica já entra seriamente no sistema de educação pública, e na província do Rio de Janeiro adotou-se até a ginástica apropriada para o sexo feminino na escola normal. Declaro em defesa prévia que não acabo de fazer censura, nem epigrama. Eu reconheço a conveniência e aplaudo a aplicação do ensino da ginástica."Joaquim Manuel de Macedo, Memórias da Rua do Ouvidor
"Leandro foi sempre um rapaz bem equilibrado: coração generoso, caráter sério, inteligência regular, sobriedade nos costumes e tino para arranjar a vida. Do nosso grupo era ele o mais moço e também o mais forte e bem apessoado. Tinha excelente educação física, adquirida num colégio da Inglaterra; conhecimento perfeito da esgrima e jogos de exercício; destreza na montaria e plena confiança nos seus músculos."
Aluísio Azevedo, Livro de Uma Sogra
A ginástica, ainda que com um aspecto quase militar (isso soa a algo conhecido?), esteve entre as primeiras atividades físicas que conseguiram estabelecer-se no currículo de algumas escolas brasileiras ao longo do século XIX, devido à influência de práticas adotadas na Inglaterra, Alemanha, França e Estados Unidos. Sabemos, por exemplo, os nomes de alguns professores que a lecionavam no Imperial Colégio Pedro II, segundo nos conta Joaquim Manuel de Macedo:
"Têm ensinado ginástica os Srs. Guilherme Luís de Taube, Frederico Hoppe, Antônio Francisco da Gama e Pedro Guilherme Mayer; e dança, os srs. João José da Rocha, que a ensina ainda no internato, e Júlio Toussain, que a ensina no externato." (¹)
Quem é que não se recorda daquele trecho absolutamente legendário de O Ateneu, no qual Raul Pompeia descreve a "Festa da Ginástica"? Transcrevo apenas uma parte, que ilustra muito bem o papel importante que essa atividade ganhou na educação de rapazes ao longo do século XIX:
"Acabadas as evoluções, apresentaram-se os exercícios. Músculos do braço, músculos do tronco, tendões dos jarretes, a teoria toda do corpore sano foi praticada valentemente ali, precisamente, com a simultaneidade exata das extensas máquinas. Houve após, o assalto aos aparelhos. Os aparelhos alinhavam-se a uma banda do campo, a começar do palanque da Regente. Não posso dar ideia do deslumbramento que me ficou desta parte. Uma desordem de contorções, deslocadas e atrevidas; uma vertigem de volteios à barra fixa, temeridades acrobáticas ao trapézio, às perchas, às cordas, às escadas; pirâmides humanas sobre as paralelas, deformando-se para os lados em curvas de braços e ostentações vigorosas de tórax; formas de estatuária viva, trêmulas de esforço, deixando adivinhar de longe o estalido dos ossos desarticulados; posturas de transfiguração sobre invisível apoio; aqui e ali uma cabecinha loura, cabelos em desordem cacheados à testa, um rosto injetado pela inversão do corpo, lábios entreabertos ofegando, olhos semicerrados para escapar à areia dos sapatos, costas de suor, colando a blusa em pasta, gorros sem dono que caíam do alto e juncavam a terra; movimento, entusiasmo por toda a parte e a soalheira, branca nos uniformes, queimando os últimos fogos da glória diurna sobre aquele triunfo espetaculoso da saúde, da força, da mocidade." (²)
Gradualmente, com muitas precauções e, sem dúvida, com um pouco de discórdia, foram introduzidas aulas de ginástica também para moças. Não os mesmos exercícios dos rapazes, já que a prática da época era fugir de qualquer semelhança na educação de meninos e meninas, mas outros compatíveis com a suposta "fragilidade" das educandas. Aos poucos, a resistência foi sendo vencida e até o glorioso Barão Pierre de Coubertin teve de engolir mulheres nas suas amadas Olimpíadas. Ainda que tardiamente, as meninas brasileiras puderam ter aulas de Educação Física menos entediantes. Mas demorou!
(1) MACEDO, Joaquim Manuel de. Um Passeio Pela Cidade do Rio de Janeiro.
(2) A "Regente" a que o texto se refere é, naturalmente, a Princesa Isabel.
(3) PARA TODOS, 24 de novembro de 1923.
Quem é que não se recorda daquele trecho absolutamente legendário de O Ateneu, no qual Raul Pompeia descreve a "Festa da Ginástica"? Transcrevo apenas uma parte, que ilustra muito bem o papel importante que essa atividade ganhou na educação de rapazes ao longo do século XIX:
Demonstração de Ginástica Rítmica para moças, Rio de Janeiro, 1923. (³) |
Gradualmente, com muitas precauções e, sem dúvida, com um pouco de discórdia, foram introduzidas aulas de ginástica também para moças. Não os mesmos exercícios dos rapazes, já que a prática da época era fugir de qualquer semelhança na educação de meninos e meninas, mas outros compatíveis com a suposta "fragilidade" das educandas. Aos poucos, a resistência foi sendo vencida e até o glorioso Barão Pierre de Coubertin teve de engolir mulheres nas suas amadas Olimpíadas. Ainda que tardiamente, as meninas brasileiras puderam ter aulas de Educação Física menos entediantes. Mas demorou!
(1) MACEDO, Joaquim Manuel de. Um Passeio Pela Cidade do Rio de Janeiro.
(2) A "Regente" a que o texto se refere é, naturalmente, a Princesa Isabel.
(3) PARA TODOS, 24 de novembro de 1923.
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