terça-feira, 5 de abril de 2011

O surgimento de povoações no Brasil - Núcleos urbanos formados ao redor de capelas

Em postagens anteriores (da série A Arquitetura Sacra Paulista e Mineira nas Regiões Cafeeiras) já mencionei o fato de que muitas cidades brasileiras nasceram ao redor de uma capela, que podia ser edificada em uma fazenda, para uso dos moradores ou, em outros casos, em algum lugar que o misticismo popular consagrava como milagroso. Nas imediações da primitiva capelinha iam sendo construídas, gradualmente, algumas habitações e, desse modo, uma povoação chegava a estabelecer-se. Há um trecho interessante de Auguste de Saint-Hilaire sobre esse fenômeno:
"A cerca de quarto de légua da fazenda encontramos a vila de Carrancas, sede de paróquia, mas que quando muito merece o nome de aldeia. Fica situada numa encosta de colina e compõe-se de umas vinte casas arrumadas em volta de uma praça coberta de grama.
A igreja ocupa o lado mais alto da praça.
É pequena mas construída de pedra e muito bonita por dentro.
Não é à mineração que Carrancas deve a sua origem. No lugar em que está situada existiu outrora uma fazenda com capelinha. Atraídos pelo desejo de ouvir missa, alguns cultivadores vieram estabelecer-se na vizinhança. Foi a fazenda destruída, mas a capela continuou a subsistir. Substituíram-na por uma igreja mais considerável e pouco a pouco formou-se a aldeia." (¹)
Capela do Bom Jesus em Pedreira - SP
Ocorre que, infelizmente, (como aconteceu inclusive no caso citado por Saint-Hilaire), a maioria dessas capelinhas foi demolida, geralmente para dar lugar a uma igreja maior. Não tenho nada contra as grandes igrejas (isso não é questão para este blog), mas teria sido interessante, em termos de preservação do patrimônio histórico, que as antigas construções houvessem permanecido. Há, no entanto, algumas que ousaram sobreviver. A título de exemplo, veja ao lado a Capela do Bom Jesus, construída pela família do fundador da cidade de Pedreira, interior de São Paulo. Neste caso, a capela, edificada entre 1896 e 1897, foi mais tarde sucedida pela Igreja Matriz de Sant'Ana, estando esta última, a bem da memória histórica da cidade, erigida a boa distância da primeira. (²)
Entretanto, leitor, não se deve imaginar que bastava haver capela para, necessariamente, haver povoação. Esta citação do Padre Ayres de Casal, em sua Corografia Brasílica, referindo-se a uma localidade no Piauí, nos dá perfeitamente a ideia de que, às vezes, "o tiro podia sair pela culatra", ainda que temporariamente:
"A Freguesia de Nossa Senhora das Mercês, cujos primeiros habitantes eram, pela maior parte, índios jaicós, fica entre o rio Itaim e a ribeira das Guaribas. Todos os fregueses vivem dispersos: o vigário é quase o único vizinho da Matriz, que fica mais de vinte léguas afastada da capital."

(1) SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda Viagem a São Paulo e Quadro Histórico da Província de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2002, p. 56.
(2) Para saber mais sobre a Matriz de Sant'Ana, acesse: A arquitetura sacra paulista e mineira nas regiões cafeeiras - 3


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