quinta-feira, 11 de maio de 2023

O envelhecimento da Terra e o declínio da agricultura romana

Columella, autor romano do Século I, registrou no Livro Segundo de sua Res rustica uma ideia que, segundo ele, foi defendida por vários escritores ilustres da Antiguidade: a Terra estaria envelhecendo e se tornando improdutiva. 
Acompanhem, leitores, o argumento que, no mínimo, é curioso: comparava-se a Terra, em sua fertilidade, a uma mulher (é a mitologia recorrente da "mãe terra"); ora, assim como as mulheres, quando envelhecem, perdem a capacidade de procriar, a Terra, que ia ficando velha, estaria, pouco a pouco, se tornando estéril, disso resultando a crescente dificuldade em fazê-la produzir como se supunha que ocorrera no passado. 
Embora concordasse com o fato de que as mulheres, ainda que vivessem muito, tinham, pela idade, um limite à capacidade reprodutiva, Columella notou que coisa semelhante não acontecia com as áreas agricultáveis que, quando deixadas por certo tempo sem cultivo, voltavam, posteriormente, a recompensar os esforços de quem plantava. Esse princípio foi aplicado mais tarde, na Idade Média, e contribuiu, como se sabe, para evitar o esgotamento do solo em parte da Europa, à medida que se efetuava um rodízio nas lavouras (chamado de rotação de culturas), evitando a repetição em anos sucessivos de um mesmo cultivo, enquanto, periodicamente, áreas eram deixadas em pousio. 
Agricultores da Antiguidade e Idade Média não podiam contar com as vantagens (e desvantagens) que a moderna indústria química oferece à agricultura. Conheciam, porém, técnicas de fertilização que hoje chamaríamos de orgânicas. Mas, à parte de tudo que já foi dito, é preciso considerar que um outro fator emperrava a agricultura entre os romanos, exatamente pela época em que Columella escreveu: quase todo o trabalho nas lavouras era feito por escravos, que dificilmente mostrariam algum interesse em melhorar as práticas agrícolas - que lucro teriam com isso? 
Daí decorre a inevitável conclusão de que Roma, com a ampliação da mão de obra escrava, que aparentemente deveria favorecer o crescimento na produção, enfrentou situação oposta, tornando-se mais e mais dependente das importações de trigo e outros produtos para alimentar sua população, entre a qual havia um número crescente de trabalhadores livres desocupados. A existência do Império poderia ter sido abreviada, não fora, por exemplo, a produção de trigo do Egito, que atravessava o Mediterrâneo para alimentar as multidões de romanos famintos.


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2 comentários:

  1. Boa tarde de quarta-feira e obrigado pela visita.
    Excelente matéria e aula de história, minha querida amiga.
    Luiz Gomes

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    1. Olá, Luiz, obrigada pela visita. Nunca pare de postar em seu blog, sim? Gosto muito das fotos!

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