quinta-feira, 4 de maio de 2023

Vestuário ensinado aos indígenas por missionários jesuítas

Não é verdade que todos os povos indígenas do Brasil, antes da chegada de europeus no final do Século XV, dispensavam toda e qualquer forma de vestuário. Contudo, é fato que muitos grupos não viam necessidade de roupas. Isso escandalizou os colonizadores e, em particular, os missionários da Companhia de Jesus. Resultado? Trataram de vestir os indígenas que catequizavam. 
Mas, afinal, que roupas eram essas que os padres tanto insistiam que seus catecúmenos vestissem? No último dos Diálogos das Grandezas do Brasil (¹), obra escrita no começo do Século XVII, Brandônio e Alviano discutem essa questão:
"Brandônio
[...] Antigamente, e ainda até hoje no sertão, [os indígenas] andavam e andam todos despidos, assim homens como mulheres, sem usarem de coisa alguma, para com ela haverem de cobrir suas partes vergonhosas.
Alviano
Deviam de ouvir contar de nosso padre Adão, enquanto esteve em estado de graça.
Brandônio
Mas já agora o gentio que habita entre nós anda coberto, os machos com uns calções e as fêmeas com uns camisões grandes de pano de linho muito alvo, e os cabelos enastrados com fitas de seda de diferentes cores, costumes que introduziram entre eles com assaz trabalho os padres da Companhia; porque não havia quem os fizesse apartar de sua natureza, que os incitava a andarem nus." (²) 
Apenas algumas considerações mais sobre o assunto:
  • Roupas, nesse tempo, eram muito caras e, portanto, é compreensível que o vestuário introduzido pelos jesuítas fosse bastante simples, ao que se deve acrescentar a conveniência de um traje leve para quem vivia em locais quentes e/ou nas matas do Brasil;
  • Não era fácil para os missionários a obtenção de roupas que seriam oferecidas aos indígenas - é sabido que Manuel da Nóbrega solicitou que fossem enviadas do Reino, fazendo um pedido a quem, caridosamente, pudesse doá-las;
  • Missionários jesuítas procuravam dirigir seus catecúmenos à confecção das próprias roupas, e, ao contrário do que disse Brandônio, é pouco provável que tecidos de linho fossem o padrão - tecidos de algodão, preparados pelos próprios indígenas, seriam um uso mais plausível.

(1) Autoria atribuída, com razoável probabilidade, a Ambrósio Fernandes Brandão.
(2) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. - Diálogo Sexto. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, p. 298.


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2 comentários:

  1. Muito interessante. Fica a dúvida de como os os Padres conseguiram convencer o uso da roupa.

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    1. Haha, acho que a curiosidade ajudava um pouco. Mas havia, também, a persistência dos padres.

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