Os meninos que nasciam em Esparta eram considerados filhos do Estado, não uma propriedade dos pais ou extensão da família. Eram educados para que, quando adultos, se tornassem os melhores soldados. No dizer de Plutarco, "desde a infância os meninos espartanos eram ensinados a pensar que não haviam vindo ao mundo para satisfação própria. [Haviam nascido] para buscar o que fosse favorável à sua cidade natal" (¹).
Nada havia de meigo ou delicado na educação dos jovens espartanos. Usavam roupas muito simples (quando usavam!), dormiam em lugares péssimos e a comida, ao menos para nossos padrões, era detestável. Verão e inverno, com extremos de calor e frio, deviam ser suportados com a mesma indiferença. Aprendiam, também, a obedecer sem questionar. Não deviam ter medo, se fosse necessário caminhar rumo à morte.
A despeito de tudo isso (ou, talvez, por causa disso), os rapazes de Esparta não continham o entusiasmo quando lhes era ordenado que fossem para a guerra. Por quê? Continuemos com Plutarco: "Permitia-se, enquanto durava a guerra, que os jovens espartanos deixassem um pouco da vida rústica para a qual eram treinados e que praticavam durante o tempo em que, havendo paz, permaneciam em Esparta. [Durante a guerra] era-lhes consentido que deixassem os cabelos crescerem, além da autorização para o uso das armas e de um manto. Por isso, os jovens ficavam muito entusiasmados nas ocasiões em que saíam da cidade para ir à guerra [...], ansiosos pelo enfrentamento de inimigos." (²)
Entendem agora, meus leitores, por que alguns Estados totalitários, inclusive no Século XX, fizeram de Esparta uma inspiração para suas pretensões?
(1) PLUTARCO. Vitae parallelae. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(2) Ibid.
Veja também:
Para uma justa análise daquilo que representou Esparta temos que nos tentar enquadrar no seu tempo. E os Espartanos foram eficazes, ó se foram! É verdade que se esqueceram de temperar a sua visão de vida com as artes, mas ninguém é perfeito.
ResponderExcluirQue houve, posteriormente, ideologias que se apropriaram - deturpando abusivamente - da sua forma de ser, todos nós sabemos. Mas cada tempo tem o seu contexto, e não me parece que, para bem entender, a melhor forma seja a análise dum olhar posterior, com todos os preconceitos inerentes. Analisar e avaliar sim, mas à luz da época.
Uma Santa Páscoa, Marta! :)
Até certo ponto, estou de acordo, apenas com a ressalva de que, mesmo no tempo deles, outros gregos já olhavam com estranheza para o modo de vida vigente em Esparta.
ExcluirSanta Páscoa e feliz semana!
Outros gregos olhavam para eles com estranheza, mas foi para eles que lançaram o primeiro olhar quando se tratou de suster a invasão persa. Verdade?
ResponderExcluirVerdade, mas a vitória decisiva (e surpreendente) contra os persas veio através das forças navais atenienses.
ExcluirQue se organizaram devido ao sacrifício dos espartanos em Termópilas. Se não fossem eles a aguentar os persas, nem sequer havia qualquer batalha naval.
ExcluirOs espartanos não lutaram sozinhos nas Termópilas, e, de qualquer modo, foram derrotados. Dez anos antes, em Maratona, onde é que estavam os soldados de Esparta?
ExcluirAntes da batalha naval de Salamina, os atenienses tiveram a coragem inaudita de sacrificar a própria cidade para que, finalmente, a Grécia pudesse vencer.
Bem esses são fatos. Mas, A.C., se quer saber minha opinião, não deve esperar que eu tenha qualquer simpatia por regimes que cerceiam a liberdade dos cidadãos, sejam eles da Antiguidade ou de nossos dias. A propósito, virão mais posts sobre Esparta, nem todos eles mostrando o lado negativo dessa notável cidade-Estado: há algumas coisinhas boas a dizer, também (não muitas...).
:)
ResponderExcluirNa verdade, Marta, também acho a filosofia de vida dos espartanos muito limitada. Mas gostei de a "picar", de puxar um pouco por si. Não me leve a mal, mas foi interessante. :)
Tenha uma boa semana
Creio que está a perder o foco da questão. Não se irrite, Marta, eu estava apenas a tentar puxar por si. :)
ResponderExcluirSe quer saber, eu próprio considero a filosofia dos espartanos muito limitada, que dava pouco azo a interrogações e a preocupações intelectuais. Mas que eram grandes guerreiros, lá isso eram, e com isto não estou a defender a sua forma de estar. São apenas factos. Se houve depois pessoas que se aproveitaram da filosofia espartana, isso já é outra questão. Não acha?
Uma boa semana :)
Acha que estou irritada?! Certamente não! Está muito divertido, hahaha... A ordem e a disciplina dos espartanos eram invejáveis, mas a escravização e extermínio controlado dos antigos habitantes da Lacônia foram uma mancha terrível na trajetória da humanidade (que, com essa e tantas outras manchas, parece estar com sarampo, se não for com coisa pior). Conhece algo assim no Século XX?
ExcluirOutros posts sobre Esparta estão a caminho, alguns já agendados. Talvez, com eles, o assunto fique mais claro.
Tenha uma ótima semana!