Um comerciante estabelecido em São Paulo fez publicar este anúncio no jornal Aurora Paulistana em junho de 1852 (para não enlouquecer os leitores, vai aqui transcrito na ortografia atual):
"MARMOTANT VICTOR [...] Tem a honra de participar ao respeitável público desta cidade, como aos de fora, que ele acaba de receber um grande sortimento de chapéus de palha de Itália, de homens e de meninos, enfeitados, assim como chapéus de pelo franceses. O mesmo costuma ter sempre um grande sortimento de guarda-chuvas de seda, de 5$ até 14$000; tem também de senhora de 3#000 até 10$000; conserta com brevidade todas as qualidades de chapéus por preço muito razoável; também tem barbatana para coletes de senhora." (¹)
Chapéu, meus leitores, era acessório indispensável para homens e meninos, e, com menos discrição, também para mulheres, principalmente em ocasiões de maior cerimônia. Já os guarda-chuvas não eram só para chuva: entravam em uso sempre que o sol forte se tornava inconveniente. Pode chamar a atenção o fato de que eram feitos de seda, mas isso é facilmente explicável porque a maioria dos materiais hoje usados era ainda inexistente.
Surge, no entanto, a pergunta: para que as barbatanas? Lembrem-se, leitores, dos infames espartilhos, que, a pretexto de elegância e perfeita silhueta, torturavam as mulheres e despovoavam os mares. É que as ditas barbatanas vinham, como regra, de alguma baleia, que fora arpoada, sangrada, assassinada, carneada e desossada. A vaidade tinha sua parcela de culpa nesse péssimo negócio.
(1) AURORA PAULISTANA, Ano I, nº 54, 22 de junho de 1852.
(2) BARRY, William. The Corset and the Crinoline. London: Ward, Lock, and Tyler, 1868, pp. 197 e 200. As imagens foram editadas para facilitar a visualização neste blog.
Veja também:
Que a elegância feminina de outrora era barbatana, seja lá o que isso for, já eu suspeitava. Pena que, para isso, a dama tivesse que ter uma disciplina espartana.
ResponderExcluirLonge vão os tempos, amaciam as virtudes. :)
Uma boa semana, Marta :)
Hahaha, espere para ver. Sem barbatanas de baleia, é claro, parece que a moda está de volta. Será que vai fazer adeptas? Não sei.
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