Além de escasso, o papel existente no Brasil Colonial era, frequentemente, de má qualidade
Já expliquei aqui no blog a razão para economia de papel por aqueles que viviam no Brasil Colonial. É que todo o papel vinha da Europa. Em consequência da distância e das dificuldades de transporte, era mercadoria cara e não facilmente encontrada. Vejam só o que se escreveu em uma ata da Câmara de São Paulo, no ano de 1576:
"E na dita câmara [5 de maio de 1576] mandaram os senhores oficiais que se cumprissem e guardassem as posturas contidas no Livro da Câmara que estão e serviu no ano de mil e quinhentos e setenta e seis anos, digo e setenta e quatro anos, e que fossem apregoadas [...] com as penas nelas contidas, as quais não mandaram aqui tresladar para não gastar papel por o não haver na terra [...]." (*)
Se o escrivão fosse mais eficiente, a tão necessária economia de papel poderia ser maior... O problema, contudo podia ir além do aspecto quantitativo, invadindo o âmbito do qualitativo.
De que estou falando? Não só havia falta de papel, mas o que havia às vezes era péssimo. Outra ata de São Paulo, desta vez relativa ao ano de 1590, assinalava a necessidade de abandonar o livro de atas em uso - deixemos falar o escrivão daquele ano: "Este livro deixaram os ditos oficiais de fazer vereações nele por ser de ruim papel, e mandaram fazer esta declaração. Eu, Belchior da Costa, o escrevi." (*) Outro livro foi providenciado, ao qual foi dada abertura em 27 de janeiro de 1590, com as devidas formalidades reconhecidas por escrivão, procurador, juízes e vereadores daquele ano.
Livros também eram raros nesse tempo. Havia em São Paulo um Evangelho sobre o qual juravam os que haviam de servir em ofícios públicos, mas mesmo o livro das Ordenações andava em falta. Um escrivão após outro se desesperava porque, sendo seu dever ler para os oficiais de cada ano as obrigações que tinham, não se achava na vila um só exemplar de tal livro. Sendo requerida pelo escrivão a aquisição de um, os vereadores de 1587 responderam "que na terra não havia livreiros nem quem nos vendesse, mas que eles fariam o impossível [sic!!!] pelo haver mais prestes que pudessem [...]." (*) Vários autores têm observado quanto paulistas desse tempo eram rústicos e turbulentos, e não estão errados. Seria injusto, todavia, esperar muita cultura letrada dessa realidade.
(*) Os trechos citados de atas foram transcritos na ortografia atual, com acréscimo da pontuação indispensável.
(*) Os trechos citados de atas foram transcritos na ortografia atual, com acréscimo da pontuação indispensável.
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