quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Por que capitães do mato incentivavam a fuga de escravos

Capitães do mato (¹) tinham, entre outras obrigações, a tarefa de capturar escravos fugitivos, reconduzindo-os a seu(s) senhor(es). Cada vez que algum cativo escapulia, entravam em ação e, se tinham sucesso, ganhavam uma recompensa. Para aumentar a renda, faziam uso de expedientes tão corruptos quanto pérfidos. Aqui, leitores, veremos dois deles.

1. Capitães do mato incentivavam a fuga de escravos

De acordo com C. Schlichthorst, que esteve no Rio de Janeiro durante o Primeiro Reinado, por trás da "desaparição" de muitos escravos havia a trapaça dos capitães do mato, que, astutamente, incentivavam as fugas (²). Era fácil, depois, capturar aqueles que haviam fugido e, entregando-os aos respectivos proprietários, receber, por isso, a recompensa: 
"Como tal gente [os capitães do mato], na maioria também pretos ou de cor [sic], recebe pagamento por escravo apanhado e o dobro, em caso de reincidência, emprega todos os meios de sedução para aumentar o número de fujões. Numa cidade como o Rio de Janeiro, seu método raramente falha, e mais raro ainda é poder o fugitivo escapar, porque quase sempre aqueles mesmos que o induziram à fuga o tornam a capturar." (³)

2. Capitães do mato prendiam e escondiam escravos que não haviam fugido

Em linguagem bem direta: havia capitães do mato que sequestravam escravos que não haviam fugido, para, posteriormente, apresentando-os ao respectivo senhor, receber uma recompensa. Frederico L. C. Burlamaqui, um abolicionista, referiu-se às "especulações dos denominados capitães do mato, que fazem pagar avultadas quantias aos donos por escravos que eles mesmos têm prendido e escondido por muitos dias, a título de fugidos" (⁴).

(1) Também chamados "capitães de mato".
(2) Era nas vendas e tabernas, assim que anoitecia, que muitas fugas eram planejadas. Nesse cenário duplamente obscuro, capitães do mato mal-intencionados tinham amplo terreno para agir, incentivando a desaparição dos escravos que,depois iriam capturar.
(3) SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro Como É (1824 - 1826). Brasília: Senado Federal: 2000, p. 143.
(4) BURLAMAQUI, Frederico Leopoldo César. Memória Analítica Acerca do Comércio de Escravos e Acerca dos Males da Escravidão Doméstica. Rio de Janeiro: Tipografia Comercial Fluminense, 1837, p. 83.

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