segunda-feira, 2 de junho de 2014

Como se vestiam os habitantes de Salvador em fins do Século XVI

Não são poucos os autores que, no Período Colonial, criticavam a mania de ostentar luxo entre os habitantes da primeira capital do Brasil, a Cidade da Bahia, hoje chamada Salvador. Religiosos, em suas pregações nas igrejas, invectivavam as vaidades; autores de obras de caráter moral faziam o mesmo.
Ora, se devemos crer no que escreveu Gabriel Soares, no seu Tratado Descritivo do Brasil em 1587, padres e escritores estavam gastando, respectivamente, saliva e tinta à toa. Senão, vejamos:
"Há na Bahia mais de cem moradores que têm cada ano de mil cruzados até cinco mil de renda, e outros que têm mais, cujas fazendas valem vinte mil até cinquenta e sessenta mil cruzados [...], os quais tratam suas pessoas mui honradamente, com muitos cavalos, criados e escravos, e com vestidos demasiados, especialmente as mulheres, porque não vestem senão sedas, por a terra não ser fria, no que fazem grandes despesas, mormente entre a gente de menor condição." (¹)
Compreende-se: muita gente chegava do Reino em grande pobreza, sonhando enriquecer na Colônia; aqueles que porventura alcançavam a realização de suas ambições, não tardavam em alardear prosperidade. Faziam-se notar como vencedores.
Sucede, no entanto, que a mania de grandeza contaminava praticamente toda a sociedade da capital colonial, e até mesmo gente de baixo estrato social fazia questão de pavonear-se em público:
"Qualquer peão anda com calções e gibão de cetim ou damasco, e trazem as mulheres com vasquinhas e gibões do mesmo, os quais, como têm qualquer possibilidade, têm suas casas mui bem concertadas e na sua mesa serviço de prata, e trazem suas mulheres mui bem ataviadas de joias de ouro." (²)

(1) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 125.
(2) Ibid.


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