Martinho Lutero é bem conhecido como um dos expoentes da Reforma Protestante do Século XVI. O que talvez poucos saibam é que, até mesmo em algumas de suas obras de caráter eminentemente religioso, costumava ele dar seus palpites sobre questões relacionadas à economia e à política - o que mostra, afinal, uma pessoa de interesses variados.
Assim, em Von den guten Werken (Sobre as Boas Obras), datado de 1520, aparece uma observação sobre o crescente comércio de especiarias do Oriente em terras alemãs.
Habituados à lógica da economia de nossos dias, na qual a Alemanha se destaca e, pelos menos nos últimos tempos, os países ibéricos enfrentam sérios problemas, talvez esse pequeno trecho escrito por Martinho Lutero nos pareça surpreendente. Vale lembrar, porém, que nas primeiras décadas do Século XVI Portugal era, em questões econômicas, o "dono da força", em decorrência, entre outros fatores, do lucrativo comércio de especiarias do Oriente. Comerciantes lusos tiveram lucros altíssimos, (ainda que efêmeros), despejando um mundo de temperos nas praças comerciais de países que não negociavam diretamente com os mercados fornecedores de especiarias.
Justamente por isso é que Lutero observou:
"Através de temperos, especiarias e coisas semelhantes, sem as quais os homens podem viver muito bem, não é pequena a perda de riqueza temporal que diariamente ocorre em nossas terras."
Vejam, leitores, que Lutero não estava discutindo o sabor das especiarias. O que questionava era o peso econômico que representavam para os alemães, desde que dar mais sabor à comida havia se tornado moda na Europa. Na lógica de Lutero, o comércio, a cada dia, drenava recursos da Europa do Norte para a Península Ibérica. Como os do Norte não tinham, naquele momento, nada equiparável às especiarias para oferecer, o dinheiro ia embora e não voltava mais. Portanto, os alemães ficavam mais pobres e os ibéricos, mais ricos. Notem, era tão somente a lógica do mercantilismo em ação.
Entende-se a fúria pelas especiarias. A comida na Idade Média era desgraçadamente sem sabor. Não havia muitas opções para quem ousasse tentar um prato mais sofisticado. As pessoas comiam sem nada daquilo que hoje chamamos de "boas maneiras", sem a menor compostura. Garfo e faca, de uso individual? Nem pensar, usavam-se as mãos, mesmo, para ir arrancando nacos de carne do animal que era servido...
Habituados à lógica da economia de nossos dias, na qual a Alemanha se destaca e, pelos menos nos últimos tempos, os países ibéricos enfrentam sérios problemas, talvez esse pequeno trecho escrito por Martinho Lutero nos pareça surpreendente. Vale lembrar, porém, que nas primeiras décadas do Século XVI Portugal era, em questões econômicas, o "dono da força", em decorrência, entre outros fatores, do lucrativo comércio de especiarias do Oriente. Comerciantes lusos tiveram lucros altíssimos, (ainda que efêmeros), despejando um mundo de temperos nas praças comerciais de países que não negociavam diretamente com os mercados fornecedores de especiarias.
Justamente por isso é que Lutero observou:
"Através de temperos, especiarias e coisas semelhantes, sem as quais os homens podem viver muito bem, não é pequena a perda de riqueza temporal que diariamente ocorre em nossas terras."
Vejam, leitores, que Lutero não estava discutindo o sabor das especiarias. O que questionava era o peso econômico que representavam para os alemães, desde que dar mais sabor à comida havia se tornado moda na Europa. Na lógica de Lutero, o comércio, a cada dia, drenava recursos da Europa do Norte para a Península Ibérica. Como os do Norte não tinham, naquele momento, nada equiparável às especiarias para oferecer, o dinheiro ia embora e não voltava mais. Portanto, os alemães ficavam mais pobres e os ibéricos, mais ricos. Notem, era tão somente a lógica do mercantilismo em ação.
Entende-se a fúria pelas especiarias. A comida na Idade Média era desgraçadamente sem sabor. Não havia muitas opções para quem ousasse tentar um prato mais sofisticado. As pessoas comiam sem nada daquilo que hoje chamamos de "boas maneiras", sem a menor compostura. Garfo e faca, de uso individual? Nem pensar, usavam-se as mãos, mesmo, para ir arrancando nacos de carne do animal que era servido...
Os cruzados que foram, em guerra, à chamada "Terra Santa", descobriram um sem-número de pequenos luxos entre os habitantes do Oriente. Como a vida ficava mais simpática com boas roupas, comidas saborosas, perfumes e outras coisinhas mais! Logo, nem era preciso criar um desejo de consumo - ele já existia.
Antes das navegações pelo Atlântico e Índico, as especiarias vinham da Ásia à Europa por rota terrestre, sendo transportadas, pacientemente, nas costas de camelos e de outros animais de carga. Compreende-se que, nessas condições, a quantidade de especiarias disponível nos mercados europeus era pequena e seu preço, obviamente, muito elevado. Pouquíssimas pessoas tinham acesso a elas, e não chegavam, pois, a ser problema para a economia de nenhuma nação.
Especiarias (canela, cravo e pimenta) |
Dificilmente se poderá medir a importância da chegada de Vasco da Gama à Índia em maio de 1498. Teve, salvaguardadas as proporções possíveis à época, o impacto de uma verdadeira revolução. Nada mais de mesquinhas quantidades de especiarias. Os navios vinham carregados delas, os lucros dos que investiam nessas viagens podiam chegar a uns 3.000 % (isso mesmo, três mil) e, pela quantidade em que eram oferecidas, tornavam-se artigos disponíveis e cobiçados até pelas nascentes camadas médias urbanas da Europa. Ainda eram caras, mas era coisa de que todo mundo gostava e que desejava ostentar à mesa. Entende-se, pois, que a mentalidade monástica de Lutero visse nisso tudo um enorme desperdício. Era muito mais razoável, raciocinava ele, que os laboriosos alemães continuassem a viver frugalmente, poupando seu dinheiro, em lugar de fazer a alegria de comerciantes de especiarias que levavam embora o ouro dos países do norte da Europa.
Como se sabe, todavia, a festa das especiarias não iria durar eternamente. O dinheiro que elas trouxeram não foi empregado maciçamente em investimentos produtivos. Não demoraria muito e a economia lusitana ver-se-ia dependente da vigorosa industrialização britânica. Bem antes disso, porém, pelo menos para Portugal, o foco mudaria das Índias para o Brasil, fazendo com que, na colônia sul-americana, a procura por ouro e outras riquezas minerais virasse uma obsessão.
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