segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sobre o unicórnio


Unicórnio, de acordo com representação do Século XVI (*)
Um unicórnio deveria ser, por definição e etimologia, um ser vivo dotado de um único chifre. Fácil, dirão alguns leitores, veja os rinocerontes!...
Mas, como se sabe, há rinocerontes com dois chifres, e o problema permanece porque a suposta criatura a que na Antiguidade e no Medievo se atribuía o nome de unicórnio era bem diversa de um rinoceronte. Era geralmente descrita como um belíssimo cavalo branco, tendo, na testa, um longo chifre espiralado. Vê-se, portanto, que até onde vão os conhecimentos da humanidade, tal ser não existe e, provavelmente nunca existiu - não foram encontrados fósseis que tivessem tais características.
Ainda assim, pela época do Renascimento acreditava-se, na Europa, que pó de chifre de unicórnio era o melhor remédio contra venenos diversos, inclusive de animais peçonhentos, além de combater pestes em geral. Resta saber de que animal, de fato, vinha tal pó...
Se recordarmos a devastação causada pela Peste Negra (pandemia de peste bubônica), talvez possamos dizer, não sem um sorriso mordaz, que a mortandade decorreu, afinal, da falta de um suprimento conveniente de chifres de unicórnio, não é mesmo? Não me entendam mal, leitores. O mais difícil é aceitar que ainda hoje haja quem acredite nessas tolices.

(*) THEVET, André. Cosmographie Universelle vol. 1. Paris: Guillaume Chaudiere, 1575. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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2 comentários:

  1. Acho que, ainda que fictício, o unicórnio "sobreviveu" na memória colectiva pela beleza que representa. Porque um cavalo já é belo por si. Imagina então com um chifre mágico, com poderes especiais? Ainda que seja uma tolice, do ponto de vista histórico, o unicórnio é um dos animais mais impressionantes que podemos imaginar. E o que seria da vida sem a imaginação e o sonho?
    Abraço
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Unicórnios, centauros, sereias... Todos bem bonitinhos, mas (in)felizmente, não existem. O mais engraçado é que, embora muitos desses seres mitológicos tenham chegado até nós pela ótica dos antigos gregos, "criaturas" semelhantes são encontradas nas lendas e fábulas de muitos outros povos e culturas.
      Por que isso acontece?
      Aí já começa um debate quase interminável, não é mesmo?

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