quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O cultivo de trigo no Sul do Brasil nas primeiras décadas do Século XIX - Parte 1

No início do século XIX a triticultura era já muito importante no sul do Brasil. Auguste de Saint-Hilaire, naturalista francês que, na época, percorreu o atual Estado do Rio Grande do Sul e o Uruguai, deixou preciosas observações sobre os métodos que eram então utilizados tanto para plantar e colher como para debulhar o trigo.
Referindo-se ao plantio das lavouras de trigo em algumas áreas, notou que era possível obter duas safras por ano, com a condição de se alternarem milho e trigo:
"As terras produzem duas vezes por ano, quando se alternam o milho e o trigo. Planta-se o trigo de maio a agosto, e se recolhe principalmente em dezembro. Imediatamente após, queima-se a palha e planta-se o milho na mesma terra sem cultivá-la, fazendo-se apenas covas com a enxada para aí colocar a semente." (¹) Note-se que a queima como parte das práticas agrícolas, verdadeira praga na agricultura brasileira (por mais vantagens que aparentemente tivesse), estava presente também neste caso.
A técnica de colheita recebeu também especial atenção do atento Saint-Hilaire: "Faz-se colheita do trigo", escreveu ele, "com grandes foices muito estreitas, do feitio de uma semielipse alongada e oblíqua. O ceifador põe dedeiras de palha na mão esquerda, e com essa mão prende um punhado de pés de colmos, abaixo das espigas, e corta a palha sob a mão. Deixa-se o restolho." (²)
Uma vez colhido, o trigo devia ser debulhado para, só então, ser comercializado. Isto será assunto da próxima postagem.

(1) SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Senado Federal, 2002, p. 567.
(2) Ibid., p. 158.


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