domingo, 12 de dezembro de 2010

Humor natalino nas primeiras décadas do Século XX - Papai Noel leva um susto

Como era ou, melhor dizendo, como a sociedade brasileira das primeiras décadas do século XX via a si mesma? Essa é uma questão interessante, que o cartum abaixo talvez ajude a responder (¹):


A legenda original diz: "Tipos característicos da Missa do Galo". A benefício dos pouco religiosos, vale esclarecer que a Missa do Galo é uma celebração católica tradicionalmente realizada à meia-noite, em honra do nascimento de Jesus. Ocorre que, de acordo com o costume, iam todos à missa, após a qual realizava-se a famosa ceia de Natal. O interessante do cartum é perceber como o desenhista procura retratar, de alguma forma, a totalidade da população brasileira, ao menos segundo o seu ponto de vista. Portanto, leitor, divirta-se procurando identificar que parcelas da população estão representadas.
Agora, voltando a um tema que tem sido recorrente em minhas postagens, o do ritmo da mudança historicamente verificável, temos aqui outro cartum (aliás, ótimo):

Aqui está em questão o espanto de Papai Noel, ao chegar à Terra no Natal de 1924 (²). Diz ele: "Homessa! Não há mais mulheres nesta casa!?" (³)
Você já vê, leitor, que Papai Noel está pouco à vontade com os novos cortes de cabelo adotados pelas mulheres... E, admitamos, para os muito conservadores, devia ser chocante. Se você está familiarizado com autores brasileiros do século XIX, já deve ter notado a emoção com que é descrito um pezinho, ou um tornozelo que, indiscretamente, uma jovem deixa seu amado entrever. Cabelos longos, longos vestidos, eram essenciais às mulheres decentes da época. Graças a uma nova mídia, no entanto (refiro-me ao cinema), as brasileiras rapidamente começam a adotar outros padrões, de modo que o vestuário passa a exigir sempre menos tecido, enquanto os cabelos vão ficando cada vez mais curtos. É tudo tão rápido e, continuamente, tão novo, que Papai Noel, que vem das geleiras do Ártico, tem lá suas dificuldades em encontrar as amáveis donas dos presentes que vem trazer. Mas, pelo visto, o 'bom velhinho" teve de ir se habituando às mudanças velozes - elas são a marca registrada de nosso tempo.

(1) A CIGARRA, 15 de dezembro de 1921.
(2) A CIGARRA, 15 de dezembro de 1924.
(3) "Homessa" é uma interjeição de época, que hoje quase ninguém mais usa; significa mais ou menos o mesmo que "Ora essa!".


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